Título: Noruega pode investir US$ 3 bi por ano no Brasil
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2008, Brasil, p. A3

A Noruega, cujo modelo adotado para a exploração de petróleo vem sendo visto por setores do governo como parâmetro para a exploração da camada pré-sal brasileira, acha que o Brasil está certo em discutir o sistema ideal para se apropriar da sua riqueza, mas torce para que a decisão seja rápida e não atrapalhe a competitividade que marcou o modelo exploratório do país desde 1997. A ambição dos noruegueses é de se tornarem os grande parceiros do Brasil na indústria de petróleo, investindo no país até US$ 3 bilhões anuais nos próximos três anos.

Para mostrar essa disposição de investir, o pavilhão oficial do país na feira Rio Oil & Gas 2008, que começa dia 15, vai abrigar uma delegação recorde de 53 empresas. A missão será chefiada pelo primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg. A estratégia da Noruega, 5º maior exportador de petróleo do mundo e onde o petróleo representa 25% da economia, inclui a manutenção no Brasil de uma incubadora de empresas interessadas em entrar no mercado brasileiro. Ela abriga atualmente 11 empresas - entre elas, a SN Power, do ramo de energia elétrica, já com programas ambiciosos de investimentos.

"Acho que o Brasil deve encontrar o modelo coerente para ela, que não deve ser nem o da Noruega e nem o do Irã. O país (no setor petróleo) deu muito certo nos últimos dez anos. É importante não deixar este momento passar. É muito importante definir logo o pré-sal para dar continuidade ao setor como um todo", disse ao Valor Erik Hannisdal, cônsul da Noruega para assuntos comerciais no Rio de Janeiro e diretor para a América Latina da Innovation Norway, misto de BNDES e Finep norueguesa. É ela que funciona como incubadora para as empresas que querem vir para o Brasil. Para Hannisdal, só com parcerias o Brasil conseguirá investir até US$ 1 trilhão para viabilizar a riqueza do pré-sal.

Presente em 35 países, a Innovation Norway tem no Brasil um dos seus maiores escritórios, segundo Hannisdal, com uma equipe de dez especialistas prestando assistência às empresas que se inscrevem para entrar no mercado brasileiro. Na Noruega, a Innovation funciona como um banco de fomento para empresas pequenas e médias, emprestando ou liberando recursos a fundo perdido (subvenção).

"No Brasil formamos um time com a embaixada, o consulado no Rio, a Câmara de Comércio e a Intsok, uma associação de empresas do setor petróleo", disse Hannisdal, mostrando o empenho com que os noruegueses estão trabalhando para ampliar o espaço já conquistado no setor petróleo do Brasil.

Além da SN Power, que já revelou a intenção de investir R$ 2 bilhões até 2010 para produzir aqui 600 megawatts de energia hidrelétrica e eólica, o diretor da Innovation disse que pelo menos outra empresa incubada, a Sintef, da área de pesquisa e desenvolvimento, já está pronta para entrar no mercado.

Segundo um folheto da própria empresa, ela é o maior grupo de pesquisa da Escandinávia, presente em 55 países e que agora pretende entrar no mercado brasileiro. Além das que estão na incubadora, Hannisdal disse que cerca de 20 das 53 empresas que estarão na Rio Oil & Gas sob o guarda-chuva oficial ainda não têm atuação no Brasil. .

Grandes empresas da Noruega já estão presentes no mercado de petróleo brasileiro, seja alugando plataformas de perfuração, seja explorando petróleo, como faz a StatoilHydro, espécie de Petrobras daquele país (capital aberto), que possui cinco áreas de concessão no Brasil, inclusive três próximas à região do pré-sal. A StatoilHydro explora sozinha o campo de Peregrino, na bacia de Campos, após ter comprado a metade que pertencia à americana Anadarko Petrolleum. Pretende produzir ali 100 mil barris de óleo por dia a partir de 2010.

A Noruega tem também a Petoro, 100% estatal, criada em 2001. Ela investe em produção de óleo no país, mas não opera, entrega a operação para parceiros. Seus lucros são investidos em um fundo voltado para suprir aposentadorias futuras. É o modelo da Petoro que o governo brasileiro tem falado em copiar, só que investindo os resultados em educação. Hannisdal não opina quanto à importação do modelo, mas vê todo o sentido em aplicar em educação os ganhos do pré-sal. "Só com educação é possível aumentar a produtividade da economia", resume.