Título: Lula convida argentinos a investirem no pré-sal
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2008, Brasil, p. A5

Depois de participar das cerimônias de 7 de setembro, no domingo, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, recebeu ontem o convite para que o seu país participe da construção da infra-estrutura necessária à exploração do petróleo brasileiro na camada pré-sal. O convite foi feito em almoço no Palácio do Itamaraty. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, esclareceu que a parceria pode ocorrer seguindo os modelos atuais de concessão ou por meio de um processo de terceirização e prestação de serviços.

Lobão afirmou que o mesmo tipo de convite pode ser feito a outros países, sem que isso necessariamente fira os interesses nacionais. Ele voltou a repetir que a comissão interministerial que estuda o modelo que será usado na produção de petróleo do pré-sal só apresentará o relatório final ao presidente no dia 30 de setembro e rebateu a possibilidade de que qualquer decisão - seja a tendência de se capitalizar a Petrobras ou de se criar uma nova estatal - já esteja tomada.

Em seu discurso oficial, Lula reforçou o projeto de integração do Mercosul, afirmando que os "mais de 300 empresários brasileiros que me acompanharam a Buenos Aires são testemunhas da aliança que estamos forjando". Ele destacou o acordo assinado entre os dois países para acelerar os estudos para a construção da usina de Garabi, no Rio Uruguai. De acordo com Edison Lobão, o prazo inicial para a construção da usina era de 48 meses, caiu para a metade e a intenção atual é que chegue a 20 meses.

Lula destacou também a assinatura de um acordo entre o BNDES, o Banco De La Nación e o Banco de Inversión y Comercio Exterior (Bice). Por ele, o banco de investimento brasileiro poderá injetar recursos em obras de infra-estrutura na Argentina conforme as necessidades apontadas pelo governo vizinho. Atualmente, o BNDES financia obras de empresas brasileiras na Argentina, mas segue o planejamento feito pelos empresários brasileiros e não se baseia nas demandas do Executivo argentino.

Lula assegurou que Brasil e Argentina estão empenhados em concluir com êxito as negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) para liberalização industrial e agrícola, a chamada Rodada Doha. "Argentina e Brasil estão articulando políticas agrícolas, industriais e tecnológicas para confirmar nossa vocação como celeiros do mundo. Por essa razão, consideramos fundamental eliminar distorções e barreiras ao comércio internacional", disse.

Para o presidente brasileiro, os dois países não devem temer as divergências, "pois elas serão sempre menores do que o que temos em comum". E afirmou que a melhor resposta para os problemas do Mercosul é mais Mercosul. "No momento em que nos preparamos para retomar negociações com outros blocos, é fundamental que o Mercosul possa falar como uma só voz no mundo", assegurou.

Cristina Kirchner lembrou os tempos em que brasileiros e argentinos se tratavam como inimigos. Segundo ela, isso impediu o desenvolvimento do Noroeste do seu país, que temia uma invasão do Brasil. "O que aconteceu? Quando precisávamos desenvolver, descobrimos que não tínhamos pontes, aquedutos e gasodutos que pudessem garantir nosso abastecimento", lamentou.

A presidente argentina disse que as divergências entre os dois países começaram a ser vencidas com o estabelecimento da democracia tanto no Brasil quanto no seu país, o que permitiu a criação do Mercosul. Depois, afirmou Cristina Kirchner, os governos democráticos e populares eleitos começaram a adotar políticas de inclusão social, acabando com as políticas neoliberais que causaram sucessivas crises econômicas na Argentina. Por fim, em tom de brincadeira, Cristina disse que as divergências acabaram de fato após o presidente Lula ter reconhecido que Messi (Lionel Messi, atacante do Barcelona e da seleção argentina de futebol) é o melhor do mundo na atualidade.