Título: Guido Mantega afirma que intervenção evita agravamento da crise
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 09/09/2008, Finanças, p. C2

O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que o governo norte-americano acertou ao intervir em duas grandes empresas de financiamento imobiliário daquele país. Ele acredita que com a operação, que implicará injeção de até US$ 200 bilhões de recursos públicos nas duas instituições, os Estados Unidos conseguirão evitar um agravamento ainda maior da atual crise financeira mundial, iniciada pela inadimplêcia do créditos hipotecários em 2007.

"É um pragmatismo responsável ... para evitar que crise se alastre (ainda mais) e cause estragos irreversíveis", disse o ministro, após abrir um seminário em comemoração aos 200 anos do Ministério da Fazenda.

Ele comparou o atual estágio da crise a um furacão de "cinco graus na escala Richter", que caminharia para os "sete ou oito graus", caso o governo norte-americano não tomasse a decisão que tomou.

Convidado para o mesmo seminário, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, que ocupou a mesma pasta no governo de José Sarney, avaliou que a decisão do governo dos EUA representa o fim do neoliberalismo econômico, corrente que defende um Estado mínimo e a capacidade dos mercados de se auto-regularem. "A globalização continua, mas o neoliberalismo acabou", disse ele, concordando com Mantega quanto ao efeito benéfico da intervenção para os EUA e o resto do mundo. Avaliação semelhante fez a economista Maria da Conceição Tavares, também presente ao seminário.

Perguntada sobre a afirmação de Bresser, a atual ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, questionou se algum dia houve uma política econômica neoliberal por parte dos EUA, pelo menos em relação ao próprio país. "Essa injeção de recursos mostra que o neoliberalismo valia somente para nós. Não tenho dúvida disso", disse ela, referindo-se à política externa praticada pelos Estados Unidos em relação a países em desenvolvimento, como o Brasil.

Sem se referir especificamente sobre à crise das hipotecas nos EUA, o ex-ministro Delfim Netto, que também participou do evento, foi outro que defendeu a interferência do Poder Público na economia. Segundo ele, não há, no mundo, nenhum exemplo de país que tenha alcançado um bom nível de desenvolvimento econômico sem a atuação do Estado como indutor desse processo.