Título: Produtividade cresce acima dos salários, mas folga fica menor
Autor: Bouças, Cibelle
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2008, Brasil, p. A2

As indústrias continuam compensando os aumentos de custos oriundos da elevação dos salários com ganhos de produtividade. No acumulado de 12 meses até julho, a produtividade do trabalho cresceu 4,08%, percentual superior ao aumento real de 3,35% na folha de pagamento média (por trabalhador), segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O crescimento da eficiência superior ao do gasto com salários na indústria permitiu uma redução no custo do trabalho, que apresentou uma taxa negativa de 0,71% no mesmo período.

Julho foi o terceiro mês consecutivo em que o custo do trabalho apresentou uma taxa negativa inferior a 0,9%. Este é um indicativo de que os ganhos de eficiência das indústrias estão mais modestos do que no quarto trimestre do ano passado e nos primeiros quatro meses deste ano, quando a taxa variou de 0,96% a 1,29%, alcançando o seu pico em abril. E também de que a margem para acomodar os aumentos salariais dentro dos ganhos de produtividade está se estreitando.

Os resultados no acumulado dos primeiros sete meses do ano também já são menos vantajosos para as indústrias. No ano, o custo do trabalho ficou negativo em 0,1%, resultado de uma alta na folha de pagamento de 3,66% e do ganho de 3,76%. Para a economista da Tendências Consultoria Integrada Marcela Prada, os dados indicam uma acomodação no ritmo de incremento do custo do trabalho para as indústrias. "As taxas ficaram muito próximas do desempenho mostrado em junho, seja o custo do trabalho, a produtividade, as horas pagas ou a folha de pagamento", afirmou. O índice negativo, observa, revela que o aumento dos salários ainda não foi suficiente para comprometer a eficiência das indústrias e causar pressões inflacionárias.

A aproximação do nível zero, contudo, deve ser acompanhada com atenção, diz Marcela. "Existe um risco para os próximos meses de redução da taxa de produtividade e também de um aumento mais expressivo na folha de pagamento, por conta dos reajustes salariais que ocorrem nesse período. O risco inflacionário ainda não está descartado", afirma.

Para o consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) Rogério César Souza, o risco é reduzido. Isso porque, apesar da alta recorde no emprego industrial registrada em julho, na média trimestral, a expansão do emprego não apresenta o mesmo vigor do início do ano, diz. De acordo com cálculo do Iedi, o emprego industrial cresceu 2,5% no trimestre encerrado em julho. A taxa ficou acima da observada no trimestre encerrado em junho (2,4%), mas abaixo das leituras feitas até maio (2,6%), abril (3%), março (3,2%), fevereiro (3,3%) e janeiro (3,4%).

No mês de julho, segundo o

IBGE, o emprego industrial cresceu 0,7% sobre o resultado de junho, com ajuste sazonal - o maior incremento desde maio de 2004. Em comparação a julho do ano passado, a alta foi de 2,8%. No ano, a taxa de expansão foi a mesma, de 2,8%, e, em 12 meses, de 2,9%.

O número de horas pagas registrou aumento de 0,9% sobre junho, com ajuste sazonal, e 2,7% na comparação com o mesmo intervalo de 2007. No acumulado do ano, a expansão também foi de 2,7%, e em 12 meses, de 2,6%. O aumento de 2,7% associado à produção 6,56% maior entre janeiro e julho garantiu à indústria ganho de produtividade de 3,76%. No acumulado de 12 meses, a produtividade cresceu 4,09%, com alta de 6,81% na produção nesse período.

Souza observa que os resultados mais positivos em termos de produção, produtividade e custo de trabalho estão concentrados em indústrias de bens de capital e de bens duráveis (ver tabela). "Ao mesmo tempo, o levantamento também revela que alguns setores estão reduzindo o custo do trabalho e melhorando a sua performance à custa de redução do número de empregados", observa, citando o caso das indústrias têxtil, madeireira e de calçados. "O lado ruim é que as primeiras indústrias a apresentarem crescimento menor de emprego e produção são de bens de consumo não-duráveis, que são altamente empregadoras", diz. Por essa razão entre os Estados que registraram as menores taxas de crescimento do emprego industrial no acumulado do ano são Ceará (0,5%), Espírito Santo

(-1,46%) e Santa Catarina (-0,53%).

Célio Hiratuka, professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), pondera que em algumas regiões as indústrias reduziram o número de trabalhadores para ganhar eficiência, mas elevaram em contrapartida os gastos com a folha de pagamento real, por conta das horas extras. É o caso, por exemplo, de Pernambuco, em que a taxa de emprego ficou negativa em 0,07% e o total de horas pagas aumentou 0,15%. Também em Santa Catarina, a taxa de emprego ficou negativa no ano em 0,04% e a folha teve incremento de 0,11%.

Já os Estados que têm pólos industriais nas áreas de alimentos e bebidas, metalurgia, siderurgia, produção automotiva e química apresentaram expansão significativa no emprego, folha de pagamento e no índice de produtividade. É o caso de São Paulo e Minas Gerais, com alta de 4,16% do emprego industrial, e de 3,5% e 0,86% na taxa de expansão da folha real de pagamento, respectivamente.