Título: Dólar forte é positivo para país, diz Mantega
Autor: Izaguirre, Mônica; Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2008, Brasil, p. A5

O governo acredita que o atual movimento de valorização do dólar é positivo para as contas externas do país. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a tendência de alta na cotação da moeda americana vai recuperar a competitividade das exportações de manufaturados, mas isso não significará mais inflação, porque há, ao mesmo tempo, queda nos preços das commodities.

O câmbio mais depreciado desestimula o crescimento das importações, cujo aumento ajuda a frear as pressões sobre os preços. Na avaliação de Mantega, isso pode ser contrabalançado pela simultânea forte queda das cotações internacionais das commodities. Ele citou o petróleo e um de seus derivados, o óleo diesel, como os maiores responsáveis pelo aumento dos custos das importações.

Para Mantega, a inflação está sob controle depois de forte expansão mundial e, agora, há uma retração de intensidade equivalente. "É assim que funcionam os mercados. Eles exageram a subida e a descida. Vamos terminar o ano dentro das margens da meta de inflação. Missão cumprida", disse.

O movimento de valorização do dólar junto ao euro e às outras moedas vai beneficiar a exportação de produtos manufaturados que são os itens de maior valor agregado na balança comercial. Na opinião dele, a mais baixa cotação do dólar (R$ 1,55) era prejudicial à economia porque encarece as exportações. "Precisamos manter o ímpeto das exportações", diz.

Parte do crescimento de cerca de 25% das vendas externas era apenas aumento dos preços das commodities, mas Mantega avalia que , no momento, o objetivo é compensar a queda de preços com maiores embarques de manufaturados. "Interessa exportar mais carros, aviões, bens de capital, eletroeletrônicos, caminhões etc."

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), entre janeiro e agosto houve predomínio do aumento nas exportações de produtos básicos (51,6%, com altas de 28,5% em semimanufaturados) e de 14,5% em manufaturados). Nos oito meses, os manufaturados tiveram participação de apenas 46,6% no total das exportações. No mesmo período de 2007, foram 52,6%.

A nova tendência do câmbio, "altamente favorável às contas externas", é, na análise do ministro da Fazenda, uma "autocorreção" do câmbio, porque "não há intervenção do governo". O Banco Central informou que o déficit em conta corrente chegou a US$ 19,51 bilhões no período janeiro-julho. Este valor representa 93% dos US$ 21 bilhões esperados para este ano.

Sobre a queda da Bovespa, Mantega avalia que o que houve foi uma "maximização" dos movimentos do mercado. No momento da alta das cotações, os fundos investiram muito em ações de companhias produtoras de commodities porque essas ações foram as que mais valorizaram. Quando veio a reversão desse cenário, esses investidores fugiram para outro tipo de aplicação. "Na mesma velocidade que subiu, também caiu, mas tem de olhar o movimento todo. Não adianta dizer que só está caindo. É preciso lembrar que subiu 100 e está caindo 40. O saldo ainda é positivo", argumentou.

Ele acredita que esse movimento é "passageiro" porque o repatriamento de capitais pode ser explicado pelos movimentos dos fundos estrangeiros deixando aplicações em commodities ou cobrindo rombos em outros mercados