Título: Petróleo negociado abaixo dos US$100
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2008, Empresas, p. B9

Carola Hoyos e Javier Blas Financial Times, de Viena e Londres

Os preços do petróleo bruto caíram ontem para bem perto do patamar crítico de US$100 o bar­ril, atingindo um novo nível de baixa em cinco meses, depois que o furacão Ike mudou sua rota para longe da área produtora de petróleo do Golfo do México.

Desde que saltou para o recor­de histórico de US$ 147,27 o bar­ril em julho, a combinação da de­saceleração da economia mun­dial, que está afetando a demanda pelo petróleo, e a maior produção da Organização dos Países Expor­tadores de Petróleo (Opep), já derrubou os preços em 30%.

O barril do WTI caiu ontem para US$ 103,26 o barril, o menor nível desde o começo de abril, com que­da de US$ 3,08. O Brent recuou pa­ra US$ 100,34 o barril no final do pregão, com queda de US$ 3,10. Durante o dia, o Brent chegou a ser negociado abaixo dos US$ 100. Operadores disseram que uma volta dos preços aos dois dígitos vai depender da rota final do furacão Ike e da produção da Opep nos próximos meses. Ontem, o mercado aguardava o fim da reu­nião do cartel em Viena, que foi realizada durante a noite por causa do jejum do Ramadã. An­tes da reunião, Ali Naimi, minis­tro do Petróleo da Arábia Saudi­ta, sinalizou que está confortável com a atual perspectiva de oferta e demanda, tornando menos provável que a Opep decida cor­tar formalmente a sua produção.

"O mercado está bem equili­brado e estamos trabalhando duro desde a reunião de junho para colocar os preços onde eles estão agora", disse Naimi. O fortalecimento do dólar con­tra o euro e a libra está proporcio­nando um colchão para os países da Opep, uma vez que isso signifi­ca que o poder de compra da zona do euro e do Reino Unido - dois parceiros comerciais importantes do cartel- continua forte.

Outro funcionário do governo saudita deixou claro que os altos preços não favorecem necessariamente a Arábia Saudita. Com a al­ta dos preços no começo do ano, o governo saudita ficou preocu­pado com a destruição da demanda, especialmente nos EUA, Europa e Japão. Foi um dos moti­vos pelos quais o país aumentou unilateralmente sua produção ao maior nível em mais de 25 anos. Mas o sentimento entre os mi­nistros da Opep mudou claramen­te da sensação de incapacidade de produzir petróleo suficiente para impedir a disparada dos preços para a preocupação de que a oferta pode já ter superado a demanda­ou estar prestes a isso -, enquanto a economia mundial "engasga".

É possível que o comunicado oficial do grupo venha a lembrar ,os países membros dos limites de suas produções oficiais, que a Arábia Saudita e outros deixa­ram de lado quando os preços do petróleo dispararam. Isso daria particularmente à Arábia Saudi­ta alguma cobertura para que re­duza tranqüilamente a produção extra que jogou no mercado nos últimos meses. Mas esse comuni­cado estava sendo impetuosa­mente discutido entre os mem­bros na noite passada. Segundo a Agência Internacio­nal de Energia (AIE), os membros da Opep sujeitos a cotas produzi­ram no mês passado 30,4 milhões de barris por dia, bem acima da cota oficial de 29,7 milhões de barris/dia. Michael Witt­ner, diretor de análise do Société Générale para o setor de petró­leo, disse que o cartel, que é res­ponsável por 40% da produção mundial, pode já ter começado este mês a reduzir silenciosamente sua produção.