Título: Petrobras anuncia novo megapoço no pré-sal
Autor: Rosas, Rafael; Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2008, Brasil, p. A5

A Petrobras anunciou ontem uma nova descoberta de óleo leve de grandes dimensões nos reservatórios do pré-sal, em águas ultraprofundas. A nova acumulação pode, juntamente com Tupi, vir a dobrar as atuais reservas provadas brasileiras, de 14 bilhões de barris. Segundo fato relevante divulgado pela estatal, o consórcio formado por Petrobras, BG e Galp Energia concluiu a perfuração de um poço na acumulação denominada Iara, na Bacia de Santos, e comprovou "relevante descoberta", segundo o comunicado da empresa. A estimativa informada é de um volume recuperável entre 3 bilhões e 4 bilhões de barris de petróleo leve e gás natural dentro dessa área, situada no bloco BM-S-11, o mesmo onde encontra-se a acumulação de Tupi.

Iara é o segundo reservatório do pré-sal no qual a Petrobras faz estimativa de reservas. No ano passado, a empresa anunciou que Tupi tem um volume recuperável entre 5 bilhões e 8 bilhões de barris de petróleo leve e gás natural. Somados, os reservatórios poderiam chegar a 12 bilhões de barris, por isso que, na avaliação do consultor John Forman, a descoberta praticamente dobra o tamanho das reservas provadas brasileiras. Forman foi diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

O anúncio de ontem foi muito diferente do feito para Tupi, que teve direito a muitos festejos por parte do governo. Em 7 de novembro do ano passado, o governo reuniu o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que retirou os blocos do pré-sal dos leilões da ANP e logo depois a Petrobras fez o anúncio, com participação da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ontem, apenas um comunicado foi enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) às 17h33 e a estatal nem mesmo chamou a imprensa para comunicar o dimensionamento das reservas de Iara. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma e o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, estavam ontem em Coari, interior do Amazonas. Até às 22h30, a única manifestação oficial foi uma rápida confirmação da descoberta pelo ministro Edison Lobão, em conversa com a imprensa.

O fato relevante da Petrobras enviado à CVM indicou que os resultados da perfuração superaram as previsões: "Quando do anúncio da descoberta de óleo leve em 7 de agosto de 2008 em Iara, o poço ainda encontrava-se em perfuração na busca de objetivos mais profundos. Estes objetivos foram alcançados e a qualidade e a espessura porosa dos reservatórios portadores de óleo revelaram-se melhores que as expectativas iniciais", diz a empresa no comunicado.

Iara está na mesmo bloco (o BMS-11) onde está Tupi. Ele tem participação de 65% da Petrobras, 25% do BG Group e de 10% da Galp Energia. A nova descoberta, comunicada ontem à ANP, revelou a existência de óleo leve, com densidade entre 26 e 30 graus API, em uma área de cerca de 300 quilômetros quadrados e a cerca de 230 quilômetros do litoral do Rio de Janeiro, em lâmina d"água de 2.230 metros. A profundidade final atingida foi de 6.080 metros.

O diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, considerou positivo o anúncio, mas ponderou que pode haver um fortalecimento do discurso nacionalista dentro do governo. Para o analista, em um momento em que o governo discute possíveis mudanças no marco regulatório do setor de petróleo, podem ganhar força propostas como a criação de uma nova estatal e a mudança do atual sistema de concessão para partilha de produção.

Para Pires, a estimativa de Iara deixa o governo mais fortalecido para definir um novo marco regulatório, uma vez que, até então, apenas Tupi tinha volumes estimados. "Antes tínhamos um bilhete premiado, mas não se sabia o prêmio. Agora, estamos vendo que o prêmio é grande", diz Pires, citando uma analogia feita pelo presidente Lula, para quem o pré-sal é um "bilhete de loteria".

Embora tenha criticado a possível mudança do modelo de concessão e a idéia de criação de uma estatal, Pires elogiou algumas vertentes da postura nacionalista sobre a exploração dos recursos do pré-sal. Para ele, seriam válidos o aporte de capital do governo na Petrobras, via entrega à empresa de áreas ainda não licitadas, mas com reservas contíguas a blocos pertencentes à estatal, e o fim da contribuição da Petrobras para o superávit primário, como forma de aumentar a capacidade de investimento da companhia.

Para ele, o maior risco de mudar o atual modelo de concessão seria afastar outras empresas da região e colocar todo o risco sobre as costas do governo. "O monopólio da exploração na região traria também o monopólio do risco, que existe, principalmente em relação ao custo de exploração", ressalta.

O consultor John Forman não acredita que o grande volume de óleo estimado para o pré-sal deva alterar as pressões nacionalistas. Segundo ele, essas pressões sempre existiram, independentemente do volume das reservas. "Tanto é que as rodadas da ANP sempre foram questionadas judicialmente", lembra. (Do Valor Online)