Título: É preciso tempo para o país criar um pólo petrolífero eficaz, diz Barros de Castro
Autor: Izaguirre, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2008, Brasil, p. A5

O Brasil precisa ser paciente e "entrar com baixa velocidade" no processo de exploração de petróleo da camada pré-sal, se quiser aproveitar ao máximo o potencial de impacto positivo que esses investimentos podem gerar na economia. A recomendação é do economista Antônio Barros de Castro, assessor da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Na sua opinião, é preciso tempo para que se instale no país um pólo fornecedor capaz de dar conta, quantitativa e tecnologicamente, de bens e serviços que serão demandados pela construção de novas plataformas, fortalecendo a produção nacional.

"A definição da velocidade faz toda a diferença", disse Castro, ontem, em Brasília, alertando que a escolha a ser feita agora vai afetar o perfil e a estrutura de crescimento da economia brasileira pelas próximas décadas. A avaliação foi feita por ele durante o terceiro e último dia do seminário promovido pelo Ministério da Fazenda em comemoração aos seus 200 anos.

Pelas previsões do economista, se o governo permitir que a lógica de mercado domine, a tendência será de aceleração do processo de utilização das novas jazidas, pois, com o preço atrativo do petróleo, é natural que Petrobras e outros eventuais investidores queiram lucrar o quanto antes com isso. Esclarecendo que falava apenas em seu próprio nome (e não do BNDES nem do governo), Castro defendeu que, em vez disso, esse e os próximos governos dosem a velocidade de exploração do pré-sal adotando políticas ativas de regulagem da oferta e, se conveniente, também do consumo de petróleo.

Assim, os investimentos necessários para extrair o novo petróleo dependeriam menos tanto de importações (já que haveria fornecedores nacionais de equipamentos e serviços) quanto de financiamento externo. "Quanto menor a velocidade, maior será a capacidade do Brasil de se autofinanciar", disse.

O assessor do BNDES chamou atenção também para a necessidade de tempo para o país ter uma estrutura suficiente para refinar uma quantidade maior de óleo. Ele não chegou a citar, mas o presidente Lula já definiu que uma das diretrizes do modelo de exploração a ser escolhido é a agregação de valor ao produto a ser exportado.

Um estudo produzido pelo corpo técnico do BNDES e apresentado por Castro, no seminário, conclui que, tomando como hipótese a supremacia da lógica de mercado, o Brasil alcançaria capacidade de exportar 400 mil barris de petróleo por dia até 2015, 1,4 milhão até 2020, 3,3 milhões até 2030 e atingiria o auge até 2035, com 3,5 milhões de barris diários exportados. Nesse ritmo, porém, apenas dez anos depois, em 2045, o país já estaria dependendo novamente de importações do produto, comprando liquidamente 500 mil barris por dia.

Dependendo do preço considerado, o estudo mostra que, já em 2030, o petróleo representaria pelo menos 28,4% da pauta de exportações do país. Num cenário de preço mais alto, essa concentração chegaria a 47,3%. Castro acha que isso seria ruim, pois a economia brasileira ficaria dependente demais do petróleo e, portanto, externamente vulnerável, pois poderia ser fortemente afetada pelas oscilações de preço da mercadoria.

O estudo do BNDES mostra que, mesmo com uma política ativa para regular oferta e demanda, as exportações podem ser muito expressivas, chegando a 2,4 milhões de barris por dia em 2030, pelas projeções. Já em 2015, o país estaria exportando liquidamente 200 mil barris diários nessa hipótese.

No cenário de supremacia da lógica de mercado, até 2042, o estudo supõe que seriam implantadas 138 novas plataformas, sendo que o ritmo seria em média de seis por ano no período entre 2020 e 2026.

Antônio Barros de Castro alertou ainda que, se for muito concentrado no tempo, o fluxo cambial positivo a ser gerado pelas vendas externas de petróleo pode provocar uma valorização exagerada da moeda nacional frente às estrangeiras, desestimulando outros setores exportadores e gerando ainda mais concentração da pauta e mais vulnerabilidade.

Ele acha boa a idéia de o governo "esterilizar" parte desse fluxo cambial, comprando a moeda estrangeira daí decorrente, colocando-a num fundo soberano, que aplicaria fora do país. Ele disse, no entanto, que "isso não é uma panacéia".

Perguntado sobre a criação de uma nova estatal, ele revelou que não tem preconceito contra, mas entende que isso só seria conveniente na hipótese de nem Petrobras, nem a Agência Nacional do Petróleo, a agência reguladora do setor, nem Ministério das Minas e Energia terem possibilidade de desempenhar as funções que caberiam a essa empresa.