Título: Geddel prefere fortalecer-se na Bahia
Autor: Costa, Raymundo; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2008, Especial, p. A14

Um dos nomes cotados para ser vice em uma eventual chapa com a ministra Dilma Rousseff (PT) em 2010, o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, diz sentir-se lisonjeado mas não esconde que seu plano, no momento, é fortalecer-se na Bahia. Adianta que pode escolher dois caminhos: concorrer ao Senado ou, em um caso extremo, "bater chapa" com o petista Jaques Wagner, que provavelmente será candidato à reeleição. Essa última hipótese, se acontecer, será de total responsabilidade do atual governador estadual, segundo Geddel. "A liderança política na Bahia cabe ao governador. É ele quem deve ser tolerante, generoso e abrangente e pensar nas alianças políticas", afirmou Geddel, irônico, transferindo para seu atual aliado a responsabilidade quanto ao futuro.

Do gabinete que ocupa desde março de 2007, Geddel tem vista privilegiada do Congresso, onde foi líder do PMDB durante o governo Fernando Henrique Cardoso e oposição contundente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante os primeiros quatro anos de mandato do petista. Sonha voltar para o Legislativo, como senador, daqui a dois anos. Acredita que a experiência acumulada na Câmara e no Executivo oferecem plenas condições para isto. "Quem sabe disputar a liderança do partido na Casa ou até mesmo a presidência?" Com um mandato de oito anos, poderia se aventurar ao governo estadual em 2014 e, em caso de derrota, ter ainda quatro anos na chamada "Câmara alta".

Mas esse cenário depende, e muito, de Wagner. "Eu espero ter maturidade para manter a aliança daqui a dois anos. Mas depois do que fizeram conosco em Salvador, não nos sentimos obrigados a nada. O PT criou um novo padrão ético: participa quatro anos de uma gestão, sai dela, lança candidato próprio e ainda resolve bater em nós", criticou. Por isso, Geddel reforça que seu compromisso com o atual governador baiano já está quitado. "Estamos no zero a zero. Ou no um a um, se ele preferir", contabilizou.

O acordo feito em 2006 foi o seguinte: Geddel e o PMDB apoiariam Wagner na luta para derrotar o carlismo e o então governador Paulo Souto (DEM). Em troca, o petista não se oporia à indicação de Geddel para um ministério. "Eu me empenhei por inteiro, com estrutura de campanha e discurso pessoal". Vencida a eleição, Geddel foi cobrar o acerto. Quando da eleição para a presidência da Câmara, em 2007, Jaques Wagner chegou a sugerir que Geddel concorresse. Também propôs que o pemedebista substituísse Arlindo Chinaglia (PT-SP) na liderança do governo na Casa. "Eu recusei. Sabia que precisava de um cargo no Executivo. E ainda vim com o apoio do PMDB inteiro, incluindo os senadores".

Quando foi convidado por Lula, Geddel reconheceu ao presidente que tinha sido duro em suas falas como oposição. Lembrou que durante o governo FHC havia sido líder do PMDB e pediu que fosse poupado da tarefa de criticar o tucano publicamente, porque não se sentiria à vontade para isso. "Eu purguei o meu passado, sempre fui leal e jamais contraditório". Justificou a adesão ao governo Lula com pesquisas qualitativas, mostrando que ele teria dois caminhos para garantir sua sobrevivência política: ligar-se a um governo com o qual tinha divergências ideológicas ou aproximar-se do falecido senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA), adversário sistemático de toda a vida.

Geddel acredita que a candidatura do pemedebista João Henrique para a Prefeitura de Salvador fortalece seu nome na capital, mesmo que ele não chegue ao segundo turno. No Estado, o partido já sente a revitalização: dos 417 municípios, o PMDB tem candidatos próprios em 287. (PTL e RC)