Título: Petista cresce em Salvador e vira alvo
Autor: Costa, Raymundo; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2008, Especial, p. A14

O crescimento da candidatura do petista Walter Pinheiro à Prefeitura de Salvador desencadeou uma série de ataques por parte do atual prefeito da capital baiana, João Henrique Carneiro (PMDB). O candidato à reeleição repete diariamente em suas propagandas que Pinheiro traiu Lula ao não votar a favor de projetos importantes ao governo federal. Lembra ainda que o PT "abandonou" os cargos que tinha na prefeitura às vésperas do início da campanha. Ao subir o tom das críticas, o PMDB estremece sua relação com o governo estadual, comandado por Jaques Wagner e, ao colocar em risco essa aliança com o PT, lança dúvidas sobre as eleições de 2010.

Enquanto PT e PMDB se engalfinham e se esforçam para que seus candidatos sejam os mais identificados com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a última pesquisa Datafolha mostra, porém, que o preferido dos eleitores que avaliam o presidente como bom/ótimo é Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), com 25% das intenções de voto. Em seguida está o pemedebista João Henrique, com 24%, e logo atrás Pinheiro, com 21%.

Quando pode, ACM Neto ajuda João Henrique nesse embate. No último debate na televisão o candidato do Democratas fez perguntas ao atual prefeito que deram espaço para João Henrique criticar diretamente o PT.

O deputado federal Zezéu Ribeiro (PT) considera a estratégia pemedebista extremamente equivocada. "É preciso compreender que as diferenças que se expressam nos planos municipais são bem menores do que a aliança que temos", diz. Com os ataques do PMDB e de seu principal cacique, o ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, Ribeiro acredita que não só um possível apoio no 2º turno fica difícil, mas também as relações no plano estadual podem ser comprometidas.

O ministro, no entanto, se diz tranqüilo com a posição de seu partido. "O que temos com o PT é uma aliança e não um casamento. E o nosso relacionamento com o governador Jaques Wagner continua muito bom. Sou extremamente transparente, se algo tivesse estremecido, todo mundo já saberia", diz.

Atualmente, o PMDB está à frente de duas secretarias estaduais, a de Infra-Estrutura e a de Indústria e Comércio. Antes das convenções que escolheram os candidatos a prefeito, o PT ocupava, na administração municipal, duas principais secretarias: a de Governo e a da Saúde. Nessa época também, o governador Jaques Wagner tinha em sua base de sustentação nada menos do que 50 dos 63 deputados estaduais. Desde então oito deles (seis do PR e dois do PRTB) se dizem "independentes" e o número de apoiadores está em 42.

O embate entre PT e PMDB não se restringe à capital baiana. Eles também se enfrentam em cidades importantes do Estado, como Feira de Santana (segundo maior colégio eleitoral da Bahia), Itabuna, Barreiras e Juazeiro. Em Juazeiro, Barreiras e em outras duas cidades menores, Cruz das Almas e Mutuípe, os candidatos do PMDB são políticos ligados ao carlismo e que mudaram de partido depois que Wagner ganhou as eleições de 2006. "São exemplos de maus políticos e o PMDB permitiu que entrassem no partido", diz Ribeiro. "O PT também já errou ao trazer algumas pessoas para sua estrutura, mas agora trabalhamos para não repetir isso", argumenta o deputado federal.

Em Salvador, Geddel e outros oito ministros de Lula aparecem na televisão elogiando o prefeito João Henrique, que faz questão de frisar também sua boa relação com o presidente. Diferentemente do candidato do PSDB, Antonio Imbassahy, João Henrique não tem explorado a proximidade com Wagner. "Acho que assim o PMDB perde a chance de sair fortalecido desse pleito", comenta Ribeiro, do PT.

Mesmo em terceiro lugar, segundo a pesquisa Datafolha de domingo, Pinheiro, do PT, é visto como ameaça. Ele é o candidato que mais cresceu desde o início da campanha: começou com 7% das intenções de voto, subiu para 13% e agora foi a 16%. Ao mesmo tempo, o petista tem a vantagem de ser o menos rejeitado pelos eleitores satisfeitos com Lula: apenas 17% deles dizem que não votariam de jeito nenhum em Pinheiro. Para os outros candidatos, esse percentual está na casa dos 30%.