Título: Octavio de Barros próximo do BC
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2011, Economia, p. 16

Economista-chefe do Bradesco volta a ser cogitado para uma das diretorias do Banco Central. Zeina Latif também deve ser nomeada

Depois de dar posse a Altamir Lopes na diretoria de Administração e a Sidnei Marques na cadeira de Liquidações e Controle de Operações de Crédito Rural, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, começa a definir os últimos nomes que vão compor o primeiro escalão da instituição. A ideia é que dois nomes do mercado financeiro sejam escolhidos para arejar a casa, hoje dirigida exclusivamente por funcionários de carreira, e ampliar o debate sobre a política monetária. Além de Zeina Latif, economista para a América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS), cotada para a área de Estudos Especiais, voltou a despontar o nome do economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, para a diretoria de Assuntos Internacionais.

Barros conta com a simpatia do Palácio do Planalto e a expectativa é de que até o próximo Comitê de Política Monetária (Copom), em 19 e 20 de abril, tanto ele quanto Zeina já tenham sido sabatinados pelo Senado e nomeados ¿ a exemplo do que ocorreu com Altamir e Marques entre fevereiro e março, antes da última reunião. Tombini vem dizendo que não há pressa para as nomeações. Mas, nos bastidores, admite a prioridade em completar a diretoria do BC.

No organograma atual do BC, Luiz Awazu Pereira figura como diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro, cargo no qual será confirmando, e como diretor de Assuntos Internacionais. ¿Esse acúmulo de funções está próximo do fim. Tombini quer resolver logo as próximas nomeações, que só dependem do aval definitivo da presidente Dilma Rousseff¿, disse um assessor do Planalto.

Ele ressaltou que Barros e Zeina são vistos como bons nomes dentro do governo e pelo mercado financeiro. ¿São pessoas qualificadas o suficiente para ampliar o debate na diretoria do BC. Mas vamos esperar mais um pouquinho. Em se tratando de governo, pode haver algum contratempo e um novo ou novos nomes surgirem no circuito¿, destacou o assessor.

Marques e Altamir, nomeados na semana passada, foram empossados em caráter de urgência. O Planalto tinha pressa em dar nomes de credibilidade para o Copom antes da reunião passada. A imagem da autoridade monetária e do próprio governo tem sido colocada em cheque, tanto pelo ceticismo do mercado em relação às estratégias de política monetária quanto pela inflação que vem corroendo o bolso dos eleitores de Dilma.

Perspectivas para 2011 » De olho nas medidas que poderão ser adotadas pelo governo para conter o processo de valorização do real, o mercado financeiro mantém firme a aposta de que o dólar fechará este ano valendo R$ 1,70. Pela pesquisa Focus, a taxa básica de juros (Selic), hoje em 11,75%, subirá até os 12,50% ao ano. Já os preços administrados deverão ter alta média de 4,5%. A previsão para o indicador que reajusta os aluguéis, o Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), piorou pela oitava vez seguida e chegou a 6,87%. A estimativa para a dívida líquida do setor público frente ao Produto Interno Bruto (PIB) foi elevada de 39,26% para 39,50%. A previsão de crescimento da produção industrial foi mantida em 4,10%. Em relação às contas externas, houve melhoria na expectativa para o deficit em conta-corrente, que passou de US$ 66,2 bilhões para US$ 65,5 bilhões. A perspectiva para o saldo da balança comercial manteve-se em US$ 13 bilhões e para os investimentos estrangeiros diretos, em US$ 42 bilhões.

Pioram as expectativas para o PIB

Enquanto o Banco Central subia a taxa básica de juros (Selic) na semana passada em 0,5 ponto percentual, o mercado começava a calcular os impactos da estratégia de arrocho para o crescimento do país. Até agora, os analistas estimam que o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas do país, avance apenas 4,29% em 2011, menos da metade dos 7,5% registrados no ano passado. Há um mês, a expectativa era de que o Brasil fechasse o ano com 4,60%. Entre os economistas, já há quem pondere que a influência dos juros e as incertezas internacionais levem a um crescimento inferior a 4%. Os dados são do Boletim Focus que, além do efeito sobre o PIB, captou a primeira redução nas previsões para a inflação oficial depois de 12 pioras seguidas: a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passou de 5,80% para 5,78%.

Segundo Flávio Serrano, economista do Espírito Santo Investment Bank, 2011 será um bom ano, mas não como era esperado anteriormente. Na avaliação dele, a indústria, com exceção da automotiva, que apresentou desempenho recorde em fevereiro, continuará apresentando expansões pequenas. No varejo, dados de crédito do Banco Central mostram que a procura por bens duráveis ¿ principalmente geladeiras, fogões e micro-ondas ¿ está em marcha lenta. Apenas entre dezembro e janeiro, as concessões de financiamento para tal modalidade de financiamento despencaram 31,2%.

Para a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), a desaceleração do PIB neste início de ano não é mero efeito estatístico, como foi em 2010, quando o PIB deu um salto sobre uma base negativa. No entender da entidade, a estratégia do BC de conjugar ferramentas prudenciais, como o aumento dos recolhimento compulsórios que os bancos são obrigados a fazer aos cofres da autoridade monetária, com o aumento das taxas de juros (a Selic passou de 10,75% para 11,75% desde janeiro) está surtindo efeito. Assim, diante da divulgação dos primeiros dados de atividade neste ano, o mercado se dividiu entre os que acreditam no arrefecimento da economia e os que o acham incipiente. Segundo a Febraban, o freio foi significativo e não exige medidas adicionais às que já estão em andamento.

Nas projeções para o PIB, os economistas também estão levando em conta o cenário internacional e os impactos da inflação. Com a crise no mundo árabe ainda longe de se resolver e uma onda de restruturação de dívidas de governos assombrando a Europa, o BC vê os riscos inflacionários se intensificarem para além do seu poder de controle. Os conflitos no Norte da África e no Oriente Médio fizeram os preços do petróleo disparar, e o desfecho dessa situação, quase imprevisível, não torna descartável uma subida no preço da gasolina no Brasil, como visto na Europa e nos Estados Unidos.

¿Estamos importando desaceleração para a nossa economia. Se o mundo frear em função dos preços elevados do petróleo, nós vamos junto¿, avaliou Flávio Serrano. ¿O cenário internacional é amplamente contraditório, tem muito para se desenrolar. O fato é que as expectativas ainda têm espaço para se deteriorarem¿, ponderou, ao se referir tanto às previsões de inflação quanto às de PIB. (VM)

Ajuda do campo O Banco Central vislumbra um pequeno alívio para a inflação em 2011. Apesar dos problemas climáticos que prejudicaram plantações em todo o país, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que a produção de grãos ¿ na safra 2010/2011 ¿ avance 2,6% comparada à passada. O valor total da produção deve chegar a R$ 271,7 bilhões ( 7,2%), ampliando a oferta e reduzindo os preços da alimentação.

Mudanças no Focus A piora das expectativas de inflação no Boletim Focus por 12 semanas acendeu o sinal amarelo na mesa de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central. O levantamento criado pela própria instituição tem causado tanta dor de cabeça ao comandante da autoridade monetária que uma ampliação da pesquisa voltou a ser debatida na casa. Como já sugerido em outras oportunidades por críticos do BC e integrantes do governo, o objetivo é colocar mais acadêmicos no Focus. A preocupação principal é que o atual modelo esteja enviesado pró-elevação de juros, sempre pressionando o BC para apenas um lado.

Hoje, cerca de 100 bancos, corretoras e consultorias são ouvidos pelo BC semanalmente quanto às previsões para a inflação e outros indicadores. Para vários economistas, se o objetivo é criar um equilíbrio entre a visão do mercado financeiro e a dos acadêmicos, será necessário incrementar a lista de participantes no levantamento em pelo menos 40 nomes. Ainda assim, em números absolutos, o sistema financeiro prevalecerá.

Para analistas de mercado, uma ampliação na quantidade de participantes no Focus é algo positivo. O que alguns questionam, porém, é a forma como o debate parece estar se colocado. ¿De maneira semelhante à sugestão de mudanças no método para averiguar a inflação, sempre que os números são desfavoráveis para o governo e para as suas estratégias, querem mudar o método¿, argumentou um integrante do sistema financeiro que preferiu não se identificar. (VM)