Título: Projetos atingem US$ 64 bilhões no país
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2008, Empresas, p. B7

Levantamento da filial brasileira do grupo alemão SMS Demag, um dos líderes globais de equipamento e tecnologia para a industria do aço, listou 46 projetos siderúrgicos em estudo e em implantação no Brasil até 2012, dos quais 24 são novas usinas. Os investimentos previstos no período, segundo Roberto Araújo, gerente comercial da SMS Demag Brasil, somam US$ 64 bilhões. Deste total, 20% estão em execução, 10% aprovados, 55% em estudo de viabilidade e 6% foram suspensos temporariamente.

O empreendimento de maior porte da lista é a usina de tubos e placas de aço da Techint, no porto Açú, litoral do Rio, estimado em US$ 10 bilhões e ainda em fase de avaliação pelo grupo ítalo-argentino. Outro é o da unidade de placas de Pecém, Ceará, de US$ 6 bilhões. A seguir vem a nova fábrica da Usiminas em Santana do Paraíso (MG) com custo de US$ 5,7 bilhões.

Nos cálculos de Araújo, se todos os projetos se tornarem realidade o país terá acréscimo de produção de 50 milhões de toneladas por ano de placas, 10 milhões de aços laminados, 7,5 milhões de aços longos e 5,6 milhões de toneladas de tubos de aço sem costura.

"Os números são resultado da soma dos volumes de produção indicados em cada projeto. É um retrato do desejo do setor nesse momento. Entretanto, não acredito que todos serão realizados, sendo que alguns não passarão da fase de estudo de viabilidade, principalmente os que não casarem destino da produção ao empreendimento", disse. Para ele, grandes projetos como o da ThyssenKrupp CSA e o da Cia. Siderúrgica de Vitória (CSV), da chinesa Baosteel mais Vale, já têm demanda garantida para a produção. A usina da Vale, em Marabá (PA), de US$ 3,3 bilhões, ainda está em fase de definição do parceiro.

No cenário de Araújo, projetos que larguem na frente podem desestimular e inviabilizar outros, como o da Aurizônia, no Maranhão, que se não achar parceiro pode ser substituído pelo da CSV. "Tudo vai depender das perspectivas futuras para o mercado mundial de aço".

A capacidade instalada do setor no país é hoje de 41 milhões de toneladas de aço bruto, segundo o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS). Os dados de investimentos da entidade do setor no país apontam investimentos de US$ 58,7 bilhões, divididos entre expansão do parque fabril existente hoje - US$ 39,9 bilhões, até 2013, com aumento de capacidade em 18,9 milhões de toneladas -; novos entrantes no país, com US$ 5,8 bilhões até 2010 e acréscimo de 6,8 milhões de toneladas; e projetos em estudos após 2010, orçados em US$ 13 bilhões e oferta adicional de US$ 16,5 milhões de toneladas. Com isso, a capacidade de aço bruto dobraria.

A SMS Demag em, sua pesquisa, obteve dados nos sites das empresas, em sites especializados e em publicações da mídia. O montante de recursos fica um pouco acima da carteira levantada pelo BNDES, que vai até 2015 e que usou o mesmo método. Conforme apurou o Valor, o banco considera que esse ciclo de investimento da siderurgia pode se prolongar até 2015, demandando investimento de R$ 85 bilhões (em torno de US$ 56). A capacidade iria a aproximadamente 80 milhões de toneladas/ano.

O BNDES dividiu o ciclo em duas etapas. A primeira até 2011, com aportes de R$ 57,3 bilhões, passando a capacidade das usinas a 55,2 milhões de toneladas. Já as projeções de novos empreendimentos que poderão maturar até 2015 somam R$ 27,7 bilhões, com aumento estimado de 24,8 milhões de toneladas. No caso da CSN, por exemplo, o banco não leva em conta os projetos de novas usinas previstos para o Ceará e Pernambuco.

Araújo, da SMS, informou que os fornecedores de equipamentos estão prontos para atender a nova demanda. Segundo ele, atualmente não dá para falar mais em produção local dos equipamentos. Quando um fornecedor recebe um contrato, os itens são fabricados onde for mais econômico. Em geral, as grandes fornecedoras - SMS Demag, a luxemburguesa Paul Wurth, a alemã Siemens-VAI e a italiana Danieli, os quatro maiores da siderurgia no mundo -, quando recebem encomendas terceirizam partes delas na China ou no Leste Europeu, mantendo equipes de fiscalização junto a estes fabricantes.

O projeto da ThyssenKrupp CSA, no Rio, de ? 4,5 bilhões, que deve entrar em operação no fim de 2009, teve os dois alto-fornos fornecidos pela Paul Wurth. Mas estão em fabricação na China, porém com engenharia e controle próprios de qualidade.

Atualmente, o principal projetos na mira dos fornecedores é o de Pecém, no Ceará, tocado por Vale, a coreana Dongkuk e e provavelmente a japonesa JFE, que está em fase final de estudo de viabilidade e ainda não distribuiu carta-consulta aos fabricantes. Outro que se mostra bem atrativo é da Usiminas, em Santana do Paraíso. As fabricantes estão aguardando as especificações de equipamentos para participar da concorrência de encomendas até o primeiro semestre de 2009. Na Açominas, do grupo Gerdau, será conhecido em 60 dias quem vai fornecer o laminador de chapa grossa para a empresa. Também já foram enviadas cartas-convites em agosto para fornecimento de equipamentos ao projeto de ampliação da siderúrgica mineira.

"Este mercado está bastante aquecido para todos os fabricantes. Estão todos com carteira lotada, mundialmente", informou Araújo. Por isso, ressalta ele, o prazo de entrega dos equipamentos está mais longo, alcançando o mínimo de três anos. Os maiores pedidos são da China, Rússia e Índia, mas o Brasil também se destaca.