Título: Bancos brasileiros lideram em governança na região
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2008, Investimentos, p. D3

Os bancos brasileiros estão entre os que possuem as melhores práticas de governança corporativa, responsabilidade social e sustentabilidade. É o que mostra estudo realizado pela consultoria espanhola Management & Excellence com os 40 maiores bancos em valor de mercado - quantidade de ações multiplicada pelo preço do papel - da América Latina. Entre as 20 instituições financeiras com as melhores notas, o Brasil é o que possui a maior quantidade de bancos listados, com seis, seguido por México e Chile, cada um com quatro. A média das notas dos bancos brasileiros é de 74,04%, enquanto a média geral do estudo é de 69,36%. A superioridade brasileira também se vê nas primeiras colocações do ranking. Bradesco e Itaú estão empatados no primeiro lugar, com 96,33%.

No estudo anterior, de 2007, o Itaú aparecia em primeiro lugar, com 95,41%, e o Bradesco em segundo, com 94,50%. Os pesados investimentos do Bradesco em treinamento e educação dos funcionários e em tecnologia - dois itens importantes dentro da análise de responsabilidade social do estudo -, levaram a instituição a empatar com o Itaú na liderança. "Uma característica do Bradesco é a sua rapidez em responder às exigências do mercado, o banco construiu um centro tecnológico na sede, na Cidade de Deus, o que impactou positivamente em suas notas", diz a diretora da Management & Excellence no Brasil, Angélica Blanco Rocha. A nota do Bradesco na parte de responsabilidade social subiu de 89,29%, em 2007, para 92,86% este ano.

O Bradesco vem progredindo a cada ano. No primeiro levantamento feito pela consultoria, em 2005, o banco tinha uma pontuação de 55%, 41,33 pontos percentuais abaixo da sua nota deste ano, um avanço de 75%. Já a pontuação do Itaú aumentou apenas 13,3% no mesmo período. "Nos últimos anos, o Bradesco claramente melhorou seus sistemas internos de controle e gestão, enquanto o Itaú é mais inovador e já está muito bem posicionado há mais tempo", lembra Angélica. Os dois maiores bancos privados do país treinam seus funcionários até sobre ética. Esse tipo de estratégia é importante principalmente para as instituições conseguirem manter o padrão de comportamento da mão-de-obra em momentos de fusões ou aquisições, bastante comuns no setor, analisa a diretora.

A nota média dos bancos brasileiros cresceu de 73,21%, em 2007, para 74,04% este ano. Mesmo assim, o Brasil caiu do primeiro para o terceiro lugar, ficando atrás da Venezuela (79,36% de média) e do Chile (78,90% de média). No entanto, é difícil fazer esse tipo de comparação, já que no estudo há apenas cinco bancos chilenos e dois venezuelanos, ante dez brasileiros. Entre os três temas analisados, as instituições financeiras brasileiras têm a melhor média em responsabilidade social (78,22%), seguido por sustentabilidade (75,56%) e, por último, governança corporativa (68,87%).

Os grandes investimentos dos bancos nacionais na área social, como o apoio ao esporte e à cultura, explica uma boa parte da nota maior em responsabilidade social, explica a consultora da Management & Excellence, Maria Fernanda Bravo. "Os bancos aprenderam que responsabilidade social não é filantropia e que ligar a marca a atitudes socialmente responsáveis traz retorno para a companhia e para seus acionistas", diz.

Em sustentabilidade, os bancos brasileiros investiram em pesados controles internos de riscos. Já em governança corporativa, apesar dos progressos, como na divulgação de informações e na composição dos Conselhos de Administração, ainda existem lacunas importantes, especialmente no tocante aos direitos dos minoritários.

Uma prova dessa falha é que os três maiores bancos privados (Bradesco, Itaú e Unibanco) estão no Nível 1 da Bovespa, o mais baixo dos níveis especiais de governança, lembra o professor de finanças da USP, Alexandre Di Miceli. "Eles resistem em migrar para o Nível 2 principalmente por causa da câmara de arbitragem e dos votos as ações preferenciais (PN, sem voto) em assuntos relevantes", diz o professor. No entanto, ele reconhece que as instituições já mostraram bons avanços oferecendo "tag along" (direito do minoritário receber parte do prêmio oferecido ao controlador) acima do obrigatório pela Lei das Sociedades Anônimas (S.A), de 80% para as ordinárias (ON, com voto).

Na visão de Maria Fernanda, a resistência dos bancos em expandir os direitos dos minoritários é mais por uma questão cultural, já que boa parte deles tem controle familiar.

Apesar da situação privilegiada das instituições nacionais, algumas delas perderam posição de 2007 para 2008. Dentro dos 20 primeiros, o Unibanco caiu do 6º para 9º lugar; o ABN Amro Real de 5º para 11º; o Santander Brasil de 13º para 15º; e o Banco do Brasil de 14º para 17º. O principal motivo dessa piora, segundo Angélica, foi a melhora do BBVA em diversos países em que atua na região.