Título: Empresa de energia tenta vender carro elétrico indiano em Bogotá
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2008, Brasil, p. A2
Ao entrar no carro vermelho em frente a um dos principais hotéis de Bogotá, o prefeito Samuel Moreno Rojas se encolheu todo. Com mais de 1,90 metro de altura, ele bateu a cabeça no teto do pequeno veículo e uma das pessoas do grupo que o acompanhava gritou: "Abram a escotilha!" Todos riram. Moreno estava testando o primeiro carro elétrico da Colômbia, que começou a ser vendido na semana passada pela empresa espanhola Endesa.
Assim como o veículo, que a propaganda garante ter "emissão zero de carbono", as multinacionais, principalmente européias, apostam que se tornou possível vender no mercado latino-americano produtos "ambientais", um luxo até agora permitido apenas aos países ricos. Segundo os executivos, duas variáveis mudaram a equação: a alta do preço do petróleo e a escassez de energia que atinge o continente.
De acordo com Mario Jaramillo, vice-presidente de geração de energia da Siemens para a região andina, a companhia alemã está instalando usinas elétricas de "ciclo combinado" de gás e vapor na Venezuela e Argentina. No Chile, a empresa quer participar da instalação de um parque de energia eólica, que está em fase de licitação.
"O mercado sul-americano é tão grande quanto o chinês. Se essas tecnologias são factíveis na China, por que não aqui?", disse Heinz Consul, presidente da empresa. Jaramillo reconhece que o custo é alto, o que torna a adoção complicada na América Latina. O executivo acredita, no entanto, que "fatores potentes" levam por esse caminho.
Ele se refere à explosão do preço do petróleo, que saiu de US$ 8 o barril em 1998 para o recorde de US$ 145 há alguns meses. Outro ponto é a disputa por energia entre países da região, como Chile e Argentina, Brasil e Bolívia. "Alguns Estados estão utilizando a energia como arma", disse Consul. As disputas já provocam resultados práticos. Por conta do corte de fornecimento de gás argentino, o Chile aprovou lei que obriga novas fábricas a garantir parte do suprimento com energias renováveis.
Na América do Sul, o portfólio de produtos ambientais da Siemens não ultrapassa 1% do faturamento, mas mundialmente responde por ? 16,9 milhões, o que equivale a 20% das vendas totais do grupo. A empresa tem metas ambiciosas e espera vender em todo o planeta ? 25,5 milhões em produtos com o selo ambientalmente correto em 2011.
Para convencer a população e os governantes latino-americanos que os produtos ambientais, apesar de caros, são uma alternativa viável, as multinacionais apostam em agressiva estratégia de marketing. Na quarta-feira, Siemens e Endesa patrocinaram o fórum Bogotá 2038, reunião de especialistas para planejar uma cidade ambientalmente sustentável daqui a três décadas, quando a capital colombiana completará 500 anos.
Os preços dos produtos ambientalmente corretos, porém, ainda parecem fora da realidade da América Latina. A Endesa colocou à venda na Colômbia um carro elétrico pela "módica" quantia de US$ 24 mil. A empresa reconhece que o valor é alto e espera conseguir baixar para US$ 15 mil com a ajuda do governo colombiano, que se comprometeu a reduzir em 35% os impostos, incluindo as tarifas de importação.
José Vargas Lleras, presidente da Codensa, empresa distribuidora de energia em Bogotá, controlada pela Endesa, enumera as vantagens do carro elétrico: zero emissões, zero ruído e um tamanho pequeno, que facilita estacionar e reduz o trânsito. No campo das desvantagens, além da questão do preço, está o descarte das baterias, que provoca sério problema ambiental. Em Londres, uma cidade de alto poder aquisitivo, as vendas de carros elétricos não ultrapassam 3 mil ao ano. A Endesa não é a fabricante do carro elétrico, apenas detém exclusividade de comercialização na América Latina. O veículo é feito pela indiana Reva.
A repórter viajou a convite da Siemens