Título: Custo da violência aproxima-se de 1% do PIB, diz Genro em Genebra
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2008, Política, p. A5

O custo econômico da violência armada no Brasil pode estar próximo de 1% do Produto Interno Bruto (PIB), e os empresários já incluem despesas com segurança privada no cálculo de seus investimentos. Quem reconheceu essa situação de insegurança foi o ministro da Justiça, Tarso Genro, em entrevista ao Valor ontem em Genebra, onde participa de seminário sobre violência armada e desenvolvimento com representantes de outros 62 países.

"A segurança pública no Brasil já é uma questão relacionada com desenvolvimento econômico", disse. "É hoje uma questão que os empresários colocam no cálculo de seus investimentos, como a segurança privada que tem de pagar, os custos em determinadas regiões para dar sustentação a seus funcionários poderem transitar, os problemas com o poder das milícias que encarecem os produtos".

Responsável pela segurança pública, o ministro lamentou que "se não fosse a violência, o custo do desenvolvimento seria menor". Disse que hoje as empresas selecionam regiões para fazer seus investimentos em função da segurança. E reconheceu que as dezenas de milícias no Rio de Janeiro "são produto da ausência do Estado".

Indagado se tem ouvido queixas do empresariado também sobre a propagação de grampos telefônicos no país, Tarso Genro respondeu que na verdade tem recebido é cumprimentos pelo combate a essa prática, "o que não quer dizer que não tenham sido cometidos erros".

O ministro também não muda sua polêmica declaração sobre interceptações telefônicas, de que "estamos chegando a um ponto em que temos de nos acostumar com o seguinte: falar no telefone com a presunção de que alguém está escutando".

Sua avaliação é de que "fui muito feliz (com a declaração), porque a vida das pessoas está sendo devassada por aparelhos comprados em contrabando ou na internet. É efeito do progresso tecnológico, que está sendo popularizado. Agora, o dever do Estado é combater isso".

Em Genebra, ele acenou com ações nos dois casos. Primeiro, para tentar reduzir a violência no país "no médio e longo prazo", Genro apresentará hoje na Suíça o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), que considera uma iniciativa inédita no combate à criminalidade no país.

O programa prevê a criação de polícia de proximidade, recursos para prefeituras terem ações preventivas fortes, formação e valorização dos profissionais de segurança pública; a reestruturação do sistema penitenciário; combate à corrupção policial. Até o fim de 2011 o governo federal promete investir R$ 6,707 bilhões (US$ 3,94 bilhões) no desenvolvimento de 94 ações que envolvem União, Estados e municípios.

Pelas estimativas do PNUD, agencia das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a violência armada causa 700 mil vitimas globalmente e até US$ 163 bilhões de prejuízos por ano. O custo econômico no Brasil acompanha a situação dos países em desenvolvimento de renda média. O PNUD considera o Pronasci, em implementação em 18 estados e 84 municípios brasileiros, uma boa iniciativa para reduzir "significativamente" a violência armada, e será levado à Assembléia Geral das Nações Unidas este mês.

Sobre as escutas clandestinas, o ministro da Justiça informou que o governo enviará na semana que vem ao Congresso uma "nova bateria de leis, cada um com temas que estão surgindo". Funcionário público que fizer escuta sem autorização perderá o emprego e os direitos públicos, por exemplo.

Genro declarou-se pronto a comparecer à CPI do Grampo, no Congresso, mas avisou que as informações que os parlamentares querem só poderão ser dadas quando acabar o inquérito policial. E isso só ocorrerá "dentro de 45 a 60 dias". É quando ficará esclarecido se a Agencia Brasileira de Informação (Abin) participou de investigação policial, indo além de seu papel de coleta e análise de informações.

Disse também que a Polícia Rodoviária Federal não tem equipamento de grampos, e que toda escuta da Polícia Federal é "auditável, em total transparência".

Sobre formação de chapa para a disputa presidencial, indagado se o vice-presidente de um candidato petista seria do PMDB, retrucou: "Prefiro esperar para emitir opinião, no Brasil está comprovado que o apressado sempre come cru".