Título: Aumentam doações a oposicionistas
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2008, Política, p. A8
A pouco mais de três semanas do primeiro turno da eleição, o balanço parcial das arrecadações já mostra que 18 campanhas para prefeito de capitais conseguiram doações acima de R$ 1 milhão. O grupo das campanhas milionárias deste ano torna claro que a oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva está tendo mais êxito em conquistar fontes de financiamento do que em 2004, e que ter apoio da máquina pública em alguma esfera de governo não é fundamental para se conseguir doadores.
Metade deste grupo de 18 candidatos está na órbita da oposição ao governo Lula, que hoje governa apenas cinco prefeituras de capital. Há quatro candidatos do DEM (ACM Neto, em Salvador, Gilberto Kassab, em São Paulo, Onyx Lorenzoni, em Porto Alegre, e Mendonça Filho, no Recife), três tucanos (Beto Richa, em Curitiba, Antonio Imbassahy, em Salvador, e Geraldo Alckmin, em São Paulo) e dois do PV (Micarla de Sousa, em Natal, e Fernando Gabeira, no Rio). Embora o PV pertença à base governista, as duas candidaturas se apóiam em partidos da oposição. Micarla tem a sustentação do DEM e Gabeira, do PSDB.
Em 2004, ocasião em que o período eleitoral se encerrou com 40 campanhas milionárias, a oposição ao governo Lula era representada por apenas 16 candidatos: o PSDB contava com seis (José Serra, em São Paulo, Antonio Cambraia, em Fortaleza, Beto Richa, em Curitiba, Dário Berger, em Florianópolis, Wilson Santos, em Cuiabá, e César Colnago, em Vitória), o DEM, então PFL, com quatro (Amazonino Mendes, em Manaus, Osmar Bertoldi, em Curitiba, Cesar Maia, no Rio, e César Borges, em Salvador); o PPS com dois (Sérgio Ricardo, em Cuiabá, e José Fogaça, em Porto Alegre) e o PDT, à época um partido de oposição, com três (João Henrique, em Salvador, Tadeu Palácio, em São Luís, e Cícero Almeida, em Maceió). Embora integrante do PSB, João Leite candidatou-se em Belo Horizonte com o apoio do PSDB.
Naquele ano, o PT, sozinho, conseguiu mais de R$ 1 milhão para 13 de seus 22 candidatos em capital, três a menos que a totalidade da oposição. Naquela eleição, o PT centralizou o comando das ações de campanha em Brasília, e o então tesoureiro do partido Delúbio Soares garantiu financiamento. As operações financeiras entre o partido e o empresário Marcos Valério de Souza para carrear recursos de campanha tornaram-se escândalo com as investigações da CPI dos Correios, em 2005. A direção nacional do partido continua operando a favor das candidaturas petistas por todo país, mas com outros métodos e em menor escala.
Agora só há três petistas no grupo de 18 campanhas milionárias : Marta Suplicy, em São Paulo, Gleisi Hoffmann, em Curitiba, e João Carlos Coser, candidato à reeleição, em Vitória. Equipara-se na base governista ao PMDB, com as campanhas de Nelson Trad, em Campo Grande, Eduardo Paes, no Rio, e João Henrique, em Salvador. Ainda fazem parte do grupo governista Mauro Mendes (PR), em Cuiabá, e Omar Aziz (PMN), em Manaus, apoiados pelos governadores Blairo Maggi (PR-MT) e Eduardo Braga (PMDB-AM). Fruto de um empreendimento conjunto entre tucanos e petistas, Márcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte não é nem governo e nem oposição no plano federal.
O poder de um administrador sobre licitações, concessões e investimentos públicos costuma atrair financiamento eleitoral para seu candidato e inibir doadores a bancarem seus adversários, mas os candidatos que concorrem sem apoio das máquinas estadual, federal e municipal estão sendo melhor sucedidos agora do que há quatro anos. Em 2004, apenas 11 candidatos que combatiam ao mesmo tempo as três esferas romperam a barreira de R$ 1 milhão em doações. Isto porque boa parte dos candidatos da oposição contavam à época com apoio nas máquinas locais, como foi o caso das então pefelistas Salvador e Curitiba. Agora, entre os oposicionistas, somente Kassab e Richa, candidatos à reeleição, contam com este tipo de suporte.
Indesejado como candidato pelo governador paulista José Serra, Alckmin até esta semana não havia garantido retaguarda no governo estadual. Mas a presença de Serra em um jantar de arrecadação de fundos, na noite de anteontem, quando o governador fez manifestações públicas em favor do candidato, pode mudar esta situação.
Das 40 campanhas milionárias nas capitais em 2004, 22 foram vencedoras das eleições. Em geral, a campanha com mais recursos termina ganhando a disputa. Nas 21 capitais em que há quatro anos houve campanhas que arrecadaram mais de R$ 1 milhão, o candidato mais aquinhoado venceu em 15 delas. As seis exceções foram São Paulo, Belém, Goiânia, Manaus, Salvador e Palmas. Nas três primeiras, os candidatos do PT, que dominava as máquinas municipais, conseguiram mais recursos que os vencedores José Serra (PSDB-SP), Duciomar Costa (PTB-PA) e Iris Rezende (PMDB-GO). Em Manaus e Salvador os candidatos do DEM receberam mais recursos que Serafim Corrêa (PSB-AM) e João Henrique Carneiro (PDT-BA, hoje no PMDB), ganhadores. Em Palmas, Raul Filho (PT) teve menos recursos que a candidata do PR, então PL, que tentava a reeleição.
Ainda que todos os candidatos fossem obrigados a entregar suas prestações de contas no sábado da semana passada, nem todos os relatórios foram processados pelo TSE. Algumas candidaturas não divulgaram as doações feitas diretamente pelo partido, mas para o comitê financeiro da candidatura majoritária ou um comitê financeiro único. O comitê financeiro de Kassab já somou R$ 10,4 milhões, mas estes recursos são divididos com os candidatos a vereador do DEM em São Paulo. A assessoria de imprensa de Kassab não informa qual o valor que está sendo destinado para a candidatura majoritária, alegando que esta seria uma atribuição da Justiça Eleitoral. É a mesma situação de Paulo Maluf (PP), com uma arrecadação do Comitê Financeiro Único do PP de somente R$ 550 mil.
Pela informação divulgada no TSE não é possível afirmar que o prefeito paulistano é o campeão em doações eleitorais, mas a arrecadação de Kassab deve no mínimo equivaler a de Serra e de Marta, que também centralizaram as doações em nome de comitês eleitorais. Em 2004, o tucano conseguiu R$ 14 milhões e a petista, R$ 16 milhões. Candidata do DEM no Rio, com apoio do prefeito Cesar Maia, Solange Amaral não teve a sua prestação de contas divulgada até ontem. Na primeira divulgação de arrecadação, em agosto, a candidata declarou ter recebido R$ 409 mil. (Colaboraram Caio Junqueira e Cristiane Agostine)