Título: Tecnologia e criatividade abrem espaço para micros
Autor: Góes, Francisco
Fonte: Valor Econômico, 12/09/2008, Empresas & Tecnologia, p. B1

As micro e pequenas empresas ganham cada vez mais espaço como fornecedoras de bens e serviços na indústria de petróleo e gás natural, setor dominado por grandes corporações. As oportunidades são variadas e incluem desde serviços de transporte e alimentação até bens de alta tecnologia. Entre os produtos desenvolvidos estão membranas para tratamento de água extraída na produção de óleo, um coletor de amostras em plataformas e um biopolímero usado como lubrificante em brocas de perfuração. No Ceará, há inclusive ensaios com o protótipo de um robô submarino não tripulável para inspeções em águas rasas.

"Nunca estivemos em um momento tão bom para inserir as micro e pequenas empresas na cadeia do petróleo, mas o desafio é encontrar fornecedores qualificados", diz Eliane Borges, coordenadora nacional da carteira de petróleo e gás do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A entidade mantém, desde 2004, convênio com a Petrobras para capacitar e orientar pequenas empresas interessadas em fornecer produtos e serviços na área de óleo e gás.

Na primeira fase do convênio, entre 2004 e 2008, foram investidos R$ 12 milhões em 14 projetos de 11 estados. Uma segunda fase, incluindo mais três estados (Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo), está programada até 2011 quando serão investidos mais R$ 32 milhões. Eliane diz que os recursos serão investidos meio a meio entre Petrobras e Sebrae. Juntas elas entram com até 80% do valor dos projetos. Os outros 20% têm de ser captados com outras instituições e empresas.

"Conseguimos ser o que somos graças ao convênio entre Sebrae e Petrobras", diz Roberto Macedo, diretor-executivo da Armtec. Fundada em 2004, a empresa nasceu a partir do depósito de uma patente de um robô de combate a incêndio. Em quatro anos, a empresa desenvolveu cerca de 15 produtos, um deles o Samba, um robô submarino para operar em profundidades de até 150 metros e fazer inspeções em estruturas offshore e navios. Macedo diz que a previsão é começar a vender o robô no fim de 2009 por um preço que deve ficar abaixo dos R$ 100 mil.

Ronaldo Nóbrega, diretor-geral da Pam-Membranas, diz que há oportunidades enormes para as micro e pequenas empresas no setor de óleo e gás. A Pam deve faturar R$ 1 milhão em 2008, dos quais 30% a 40% com contratos no setor. Em 2009, o número pode dobrar, com metade dos negócios oriunda do petróleo. Ela produz membranas microporosas para tratamento da água extraída na produção de óleo. Incubada da Coppe/UFRJ, a Pam é a primeira da América do Sul a desenvolver esta tecnologia.

Eliane Borges, do Sebrae, disse que entre 2004 e junho de 2008 2,2 mil empresas foram qualificadas pelo convênio Petrobras/Sebrae. Segundo ela, as pequenas empresas estão organizadas em redes, as chamadas redes Petro, que permitem às empresas cooperar entre si. Hoje existem 14 redes e, em outubro, será lançada a 15ª: a rede Bacia de Santos. Em 2009, serão lançadas as redes de Pernambuco e Espírito Santo. As redes estarão presentes com estandes na Rio Oil & Gas 2008, principal evento do setor de petróleo e gás da América Latina que começa segunda e vai até quinta no Rio de Janeiro.

No evento haverá uma rodada de negócios promovida pelo Sebrae e pela Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip). Cerca de 180 pequenas empresas deverão participar de encontros empresariais com 25 grandes empresas brasileiras do setor, entre as quais Petrobras, Odebrecht e Queiroz Galvão. Na edição de 2006, a rodada resultou em negócios de R$ 100 milhões para as pequenas e médias empresas.

Outro exemplo de inovação vem da Bahia. A empresa Quantas Biotecnologia cultiva uma bactéria e o resultado dessa cultura biológica é um biopolímero de alto peso molecular, denominado goma xantana. O insumo é usado como lubrificante para proteger as brocas de perfuração contra o desgaste. "A partir de janeiro de 2009 vamos oferecer produtos para testes e em 2010 iniciar a venda.", diz Edson Buzanelli, presidente da empresa. A Comercial Usaço, do Rio, que há quatro anos tinha 100 empregados hoje tem 300. O faturamento deve chegar a R$ 30 milhões em 2008. A empresa desenvolveu um coletor de amostras.