Título: Embrapa, pesquisa agropecuária e sociedade
Autor: Macêdo, Manoel Moacir Costa
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2011, Opinião, p. 23

Professor da Universidade Católica de Brasília

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma empresa pública, com personalidade jurídica de direito privado, criada em 1972, para ¿promover, estimular, coordenar e executar atividades de pesquisa, com o objetivo de produzir conhecimentos e tecnologias para o desenvolvimento agrícola do País¿. No tempo do pragmatismo ditatorial, do milagre brasileiro, do centralismo burocrático e da carência de conhecimento, o dever foi cumprido: a geração de tecnologia agropecuária para o aumento linear da produção e produtividade das lavouras e criações, o crescimento da renda no campo, a garantia de alimentos baratos para sustentar a massa trabalhadora na incipiente indústria nacional e a exportação de commodities, colocando o Brasil como o terceiro país exportador de produtos agropecuários. A estimativa da safra brasileira para 2011 de 150 milhões de toneladas de grãos e 20 milhões de toneladas de carne bovina, são evidências dessa conquista.

Passados 38 anos da sua criação, o Brasil transformou-se de um país rural para uma sociedade urbana, industrial, populosa e moderna. O conceito não é mais aquele de que, ¿exportar é o que importa¿ ou ¿ame-o ou deixe-o¿. O consumidor e o mercado interno são referências dessa sociedade de serviços. Moveu uma multidão de brasileiros do campo para a cidade, nunca vista em situação de paz social. As externalidades advindas do modo tradicional da investigação foram realçadas e denunciados os seus constrangimentos. Um novo rural brasileiro emergiu com dilemas e oportunidades. A democracia consolidou-se. Os movimentos sociais, os ambientalistas, os trabalhadores rurais sem-terra, os ruralistas e os sindicatos assumiram posições contestatórias e constituíram os seus grupos de interesses para interferirem na trajetória do processo de criação do conhecimento e nas prioridades das políticas públicas.

Para sustentar essa transformação social, política e econômica, a missão da Embrapa foi alterada, para viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da complexa e assimétrica sociedade brasileira e de alhures. Uma pesquisa para todos a partir da divisão de trabalho entre parceiros, e da disponibilidade orçamentária e financeira. As ações da Embrapa ultrapassam mares e oceanos e alcançam em duas vias o novo e o velho continente. A primeira com os seus escritórios internacionais nos Estados Unidos, Europa e Ásia para prospectar novos conhecimentos, intercambiar tecnologias, e manter-se no topo do estado da arte da ciência. A segunda como agente de transferência, difusão de tecnologia, desenvolvimento e negócios tecnológicos na África, América Central, América Latina e Caribe. Isso significa mais do que uma movimentação per se dos agentes materiais de ciência e tecnologia, são relações sociais de produção, e estratégia de cooperação da política externa brasileira.

A continuidade da Embrapa e a sua segurança institucional são relevantes para o desenvolvimento do Brasil e de seus estratégicos parceiros. Atuar de forma cooperativa, na busca de modelar os cenários e promover o mapeamento dos riscos, ameaças, e oportunidades. Torna-se imperativo manter o sucesso da sua marca como uma organização de inovação, geração, transferência, e desenvolvimento do conhecimento da agropecuária tropical. Equipes motivadas e estimuladas pela criatividade, autoestima e paixão pelo trabalho. Autoridade e recompensas lastreadas no talento, no mérito, nos resultados e no exemplo. Segurança, credibilidade, honestidade, ética, modernização gerencial, flexibilidade, e integração dos processos. Excelência nos serviços, diversificação das fontes de financiamento, redução dos custos operacionais e dos desperdícios; participação e contato direto entre a administração superior e as unidades de pesquisa, as organizações nacionais e internacionais, colaboradores, e as suas representações, na prospecção de soluções, revitalizações de processos; e gestão proativa e sinérgica para enfrentar e vencer os desafios que estão por vir.

As organizações inteligentes exigem adaptações no curso da história, para renovar-se, crescer, e não perecer. A Embrapa não é uma exceção. Ela continuará sendo uma organização de destaque, indo além dos entraves até então enfrentados e vencidos, para priorizar a produção sustentável de alimentos saudáveis, a bioenergia, e as mudanças climáticas, a partir de um modelo exemplar de governança corporativa, administração eficiente, fortalecimento da imagem, e reconhecimento técnico-científico em circunstâncias de acirrada competitividade. A pesquisa agropecuária brasileira encarna na Embrapa um caso de sucesso dos serviços públicos nacionais. As suas contribuições ultrapassam as paixões políticas, partidárias e ideológicas. A história registrará os seus feitos na galeria das grandes empresas brasileiras.