Título: Banho de sangue no Lehman; ações caem 70% nesta semana
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Fonte: Valor Econômico, 12/09/2008, Finanças, p. C8
O "banho de sangue" continua no Lehman Brothers. As ações do combalido banco de investimento americano voltaram a despencar ontem - apenas um dia depois da instituição ter anunciado um plano em desenvolvimento para colocar suas finanças em ordem. No final da manhã de ontem, as ações do Lehman apresentavam queda de 40% em Nova York, para US$ 4,40. A ação já perdeu mais de 70% de seu valor nesta semana.
A cruel onda de vendas é a maneira de Wall Street dizer que duvida da capacidade do diretor-presidente do Lehman, Dick Fuld, de cumprir a tarefa. Operadores acham que Fuld não conseguirá captar os recursos necessários com a venda de uma participação majoritária na Neuberger Berman, a unidade de administração de ativos do banco, para financiar um novo desmembramento do Lehman que vai abrigar cerca de US$ 30 bilhões em ativos imobiliários comerciais problemáticos.
Cada vez mais parece que os dias do Lehman como uma instituição independente estão contados. Aumenta o número de analistas que acreditam que o Lehman precisa encontrar outro banco para resgatá-lo.
E é grande a preocupação em Wall Street com a relutância do governo federal em entrar em cena e organizar ativamente um acordo para o Lehman, da mesma maneira que o Federal Reserve (Fed) fez com o Bear Stearns em março. Esse seria particularmente o caso se o único comprador em potencial for um banco estrangeiros, como o Barclays, HSBC ou Royal Bank of Scotland (RBS) - que vêm sendo mencionados dom freqüência como possíveis compradores.
A lista de possíveis parceiros domésticos para o Lehman é bem pequena. O JPMorgan Chase ainda está digerindo o Bear Stearns. O mesmo pode ser dito do Bank of America, que recentemente fechou um acordo para o problemático banco hipotecário Countrywide Financial. David Hendler, analista da CreditSights, sugere que o Goldman Sachs, que vem suportando o aperto de crédito melhor do que qualquer outra instituição de Wall Street, é um possível interessado emergencial. Mas a situação da Washington Mutual (WaMu), a maior instituição de poupança dos Estados Unidos, cuja ação está sendo negociada a US$ 2, está complicando as coisas. A ação da WaMu vem sendo a outra grande baixa desta semana, tendo caído 53% nos últimos quatro dias. Há uma possibilidade de que a WaMu também tenha de ser resgatada por um banco maior.
Uma preocupação com o Lehman é sua grande carteira de contratos de derivativos - acordos sofisticados firmados com outros bancos, fundos de hedge e instituições financeiras e que são atrelados do desempenho de um título subjacente. Os bancos de investimento, ao contrário dos bancos comerciais, não são obrigados a uma grande quantidade de informações sobre os derivativos. Mas um potencial rebaixamento da dívida do Lehman por uma agência de classificação de risco poderia forçar o banco a pagar mais dinheiro sob os termos desses negócios. Num documento enviado às autoridades reguladoras, o Lehman diz que poderá anunciar US$ 2,9 bilhões em garantias adicionais sob esses contratos de derivativos, se a classificação de sua dívida por rebaixada em um ponto.
Se a classificação do Lehman for rebaixada em dois pontos, ele poderá oferecer garantias adicionais de US$ 4,4 bilhões para satisfazer seus parceiros de negócios. É claro que a última coisa que o Lehman pode se dar ao luxo agora é gastar mais dinheiro do que pode. Enquanto isso, o clima dentro da sede do Lehman em Times Square está sombrio. Fontes disseram ontem que muitos dos operadores do Lehman já registraram seus nomes em empresas caçadoras de talentos, numa tentativa de encontrarem novos empregos.