Título: Empresas atuam para aprofundar as relações entre Brasil e Estados Unidos
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2008, Brasil, p. A2
Empresas brasileiras com negócios nos Estados Unidos iniciaram na semana passada um esforço para aprofundar as relações entre o Brasil e os EUA, num momento em que as incertezas geradas pela campanha presidencial americana e divisões existentes no meio empresarial brasileiro criaram novos entraves para essa aproximação.
Uma missão formada por representantes de várias associações empresariais e companhias como a Embraer e a Petrobras passou a semana em Washington fazendo contatos com funcionários do governo americano, congressistas e pesquisadores de centros de estudos acadêmicos para examinar o estado das relações entre os dois países.
A principal conclusão a que eles chegaram é que as empresas brasileiras precisam de uma estratégia capaz de atrair a atenção dos americanos. "Não adianta apenas vir aqui uma vez por ano", disse o vice-presidente de relações externas da Embraer, Henrique Rzezinski, presidente da seção brasileira do Conselho Empresarial Brasil-EUA. "Precisamos de uma pauta clara para promover os nossos interesses."
Essa visão foi compartilhada por vários dos interlocutores da missão brasileira. "O problema principal é que eles não sabem muito bem o que querem", afirmou um assessor do Senado americano que acompanha de perto as relações entre o Brasil e os EUA e teve vários contatos com o grupo na semana passada.
Numa tentativa de abrir uma fase mais produtiva dessa conversa, a missão empresarial brasileira distribuiu desta vez em Washington dois estudos preparados por especialista brasileiros e americanos, oferecendo uma lista de propostas para aprofundar o relacionamento entre os dois países nos próximos anos.
Um dos estudos, feito por um consultor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Pedro da Motta Veiga, propõe a criação de um novo mecanismo de diálogo bilateral, que reuniria empresários, funcionários do governo e especialistas dos dois países, nos moldes do Foro de Altos Executivos de Empresas Brasil-EUA, que se reuniu duas vezes desde sua criação em 2007.
O documento diz que o Brasil e os Estados Unidos deveriam trabalhar juntos para conter focos de instabilidade política na América do Sul, e prevê que o desenvolvimento dos campos de petróleo descobertos na camada pré-sal poderá fazer do Brasil um fator de estabilidade no suprimento de energia para os EUA e outros países avançados, criando novas oportunidades para cooperação.
O estudo também defende a retomada de negociações para eliminação de barreiras comerciais existentes entre os dois países, apesar do fracasso das discussões da Rodada Doha na Organização Mundial do Comércio (OMC) e da grande resistência que o Congresso americano passou a impor contra novas tentativas de liberalização comercial.
As eleições de novembro deste ano tendem a aumentar essa resistência. O Partido Democrata, onde a oposição a novos acordos comerciais é mais aguerrida, deverá ampliar a maioria que tem no Congresso. Seu candidato a presidente, o senador Barack Obama, fala grosso sempre que toca nesse assunto na campanha eleitoral e tem boas chances de chegar à Casa Branca.
O aumento do protecionismo no Congresso poderá atrapalhar particularmente a discussão de questões que interessam ao Brasil, como a remoção da tarifa que encarece a importação do etanol brasileiro nos EUA. Obama é a favor da tarifa e seu adversário na corrida presidencial, o senador republicano John McCain, é contra. Congressistas dos dois partidos políticos que disputam o poder nos EUA acham que é melhor preservar a tarifa.
"A capacidade dos EUA de competir na economia global depende da sua habilidade em construir parcerias sólidas com países como o Brasil", disse ao Valor o deputado republicano Jerry Weller, que se reuniu com o grupo brasileiro na semana passada. "Mas se eliminarmos a tarifa do etanol unilateralmente, o que vamos ganhar em troca?"
Existem obstáculos a uma maior integração das duas economias no lado brasileiro também. Na semana passada, membros da comitiva brasileira indicaram para as autoridades americanas que não existe mais consenso no meio empresarial sobre a conveniência de um acordo entre o Brasil e os EUA na área tributária, para evitar a dupla tributação das empresas com atividades nos dois países.
O acordo passou a enfrentar nos últimos meses a oposição da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que tem combatido no Congresso brasileiro um projeto que permitiria a troca de informações tributárias entre os dois países e é considerado um passo preliminar antes de um acordo mais abrangente. Para a Fiesp, o projeto daria poderes excessivos ao fisco dos EUA para examinar os livros das empresas brasileiras.