Título: Jaqueline Roriz se afasta de comissão
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 10/03/2011, Cidades, p. 29

Em carta endereçada à secretária-geral do PMN, a deputada informa que não fará parte das discussões sobre a reforma política da Câmara. Partido diz que não tomará providências, por enquanto, sobre o escândalo envolvendo a parlamentar Em silêncio desde o surgimento do vídeo em que aparece com o marido, Manoel Neto, pegando dinheiro com Durval Barbosa, Jaqueline Roriz (PMN) manifestou-se ontem. Por meio de uma nota pública, a deputada federal anunciou o primeiro efeito colateral do flagrante que pode complicar sua carreira política. Sem citar o episódio da gravação, ela anunciou na carta endereçada à secretária-geral do partido, Telma Ribeiro dos Santos, que abre mão de integrar a Comissão Especial de Reforma Política da Câmara dos Deputados. ¿Aprendi que os interesses da sociedade, de um grupo político, devem prevalecer acima de qualquer interesse individual ou vontade pessoal e, neste contexto, solicito a minha substituição na Comissão Especial representando o PMN¿. A direção nacional da legenda também resolveu se pronunciar. Considerou a hipótese de Jaqueline ter ido ao encontro de Durval ¿induzida por terceiros¿, na condição de ¿ingênua¿ e avisou que, por enquanto, vai aguardar o desenrolar dos acontecimentos.

Alheia ao escândalo que mobilizou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a propor abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o conteúdo da gravação, Jaqueline Roriz fala na carta sobre a importância da reforma política e diz que continuará ¿contribuindo com propostas¿ para minimizar as injustiças sociais. A saída de Jaqueline faz parte da estratégia de defesa da deputada federal, que pode ser alvo de ação penal e deve ser processada por improbidade administrativa pelo Ministério Público do DF.

Na última sexta-feira, veio a público vídeo de 2´50´´ gravado pelo ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, em 2006, no qual Jaqueline e o marido pedem estrutura de campanha e pegam um maço de dinheiro das mãos do homem que três anos mais tarde, em 2009, ficou nacionalmente conhecido por delatar um engenhoso esquema de corrupção infiltrado no governo local e com participação de deputados e empresário. Durval trocou as informações pela diminuição de sua pena na Justiça, pois responde a mais de 40 processos.

Com a desistência da Comissão, Jaqueline espera se livrar de um dos pontos de atrito em função do escândalo que agora protagoniza. Ela foi orientada por assessores mais próximos a desistir da vaga antes que houvesse tempo para os integrantes da comissão se reunirem. Com a repercussão do caso, ela ficaria vulnerável, por exemplo, a um pedido de expulsão vindo de um de seus pares. Na avaliação de seu grupo, uma situação como essa provocaria um problema a mais, desviando o foco da deputada, que agora é a sustentação de seu próprio mandato.

¿Esposa amantíssima¿ Assinada por Telma Ribeiro dos Santos, a nota do partido presidido no DF pela própria Jaqueline traça um perfil da deputada informando que ela ingressou nas fileiras do PMN por ¿se tratar de uma pessoa de boa índole e fácil trato, filha zelosa, mãe dedicada, esposa amantíssima, estimada pela população, com estabilidade financeira, interessada no exercício da ação política¿. Diante desse caráter, ¿lamentou profundamente¿ o PMN que Jaqueline ¿tenha se deixado envolver ingênua e desnecessariamente numa prática nefasta, própria de agentes políticos de pequena expressão, com tibieza ética, moral e intelectual, sem horizontes e carreira curta¿.

Antes de encerrar o comunicado, Telma deixa a entender que o PMN não vai promover a expulsão sumária de Jaqueline. ¿Por fim, não pretendendo invadir a competência dos órgãos a que a matéria está e estará submetida, reserva-se esta direção ¿ sem prejuízo das providências internas que achar conveniente adotar ¿ aguardar o desenrolar dos acontecimentos¿.

O procurador Roberto Gurgel pedirá hoje ao Supremo a abertura de inquérito para investigar Jaqueline. O PSol confirmou que ingressará também nesta quinta com uma representação na Corregedoria da Câmara pedindo a abertura de um processo por quebra de decoro parlamentar. Enquanto isso, o Ministério Público do DF prepara ação por improbidade administrativa para responsabilizar a filha de Roriz, assim como ocorreu no caso de outros deputados que foram flagrados recebendo dinheiro de Durval.

Substituição No lugar de Jaqueline na Comissão, como titular, assumirá o deputado Fábio Maia (RN). Já para a suplência, foi indicado pelo PMN o deputado Carlos Alberto (RJ).

Fora de cena Pronunciamento da deputada federal Jaqueline Roriz, ontem, por meio de carta encaminhada ao PMN:

¿Quando pleiteei uma vaga para o Partido da Mobilização Nacional, na Comissão Especial da Reforma Política, no colégio de líderes da Câmara dos Deputados, o fiz com a convicção de que o nosso PMN e seus militantes têm uma valorosa contribuição a dar a essa comissão.

A reforma política é necessária e essencial para o avanço da democracia no Brasil, para o seu aperfeiçoamento e para toda a classe política. O atual modelo é falho e precisa ser revisto com a maior brevidade possível.

Aprendi que os interesses da sociedade, de um grupo político, devem prevalecer acima de qualquer interesse individual ou vontade pessoal e, neste contexto, solicito a minha substituição na Comissão Especial representando o PMN. Continuarei contribuindo com propostas que façam com que o país encontre mecanismos eleitorais ainda mais democráticos, que ajudem a minimizar as injustiças sociais do nosso Brasil.¿

Sem expulsão Leia a seguir trechos da nota divulgada pelo PMN:

¿Ao convidarmos, em 2009, a então deputada distrital para ingressar em nossas fileiras, o fizemos baseados nas informações então colhidas de se tratar de uma pessoa de boa índole e fácil trato, filha zelosa, mãe dedicada, esposa amantíssima, estimada pela população, com estabilidade financeira, interessada no exercício da ação política, permitindo-nos visualizar um futuro promissor e uma carreira em ascensão. Lamentamos profundamente que com esse perfil ¿ por moto próprio ou induzida por terceiros ¿ tenha se deixado envolver ingênua e desnecessariamente numa prática nefasta, própria de agentes políticos de pequena expressão, com tibieza ética, moral e intelectual, sem horizontes e carreira curta. Por fim, não pretendendo invadir a competência dos órgãos a que a matéria está e estará submetida, reserva-se esta direção, sem prejuízo das providências internas que achar conveniente adotar, aguardar o desenrolar dos acontecimentos.¿