Título: País depende menos da Bolívia
Autor: Goulart, Josette
Fonte: Valor Econômico, 15/09/2008, Internacional, p. A11
O Brasil reduziu a dependência do gás importado nos últimos dois anos, embora as importações da Bolívia ainda representem cerca de 50% do consumo nacional. Para especialistas, o Brasil passa hoje por uma fase de transição na indústria do gás natural que deverá ser sucedida por uma situação mais confortável entre oferta e demanda a partir do aumento da produção no Espírito Santo e da entrada em operações das plantas de Gás Natural Liquefeito (GNL) no Rio de Janeiro e em Pecém, no Ceará.
Marco Aurélio Tavares, sócio-diretor da consultora Gás Energy, diz que a situação atual para o Brasil é bem diferente daquela quando o atual presidente da Bolívia, Evo Morales, ainda na oposição, fez o primeiro bloqueio de estradas no país interferindo na produção de condensados de gás natural (usados na produção de diesel e nafta petroquímica). "No Brasil, foram tomadas medidas de logística, de aumento da produção e na área de GNL, todas em fase de implementação, que tornaram menor a dependência do gás boliviano. Daqui a oito ou dez meses, a situação tende a ser ainda mais favorável."
Ele citou como fatores positivos a implementação do projeto Malhas, para ampliar a malha de gasodutos e melhorar o transporte de gás entre regiões do país, o Plangás, de antecipação da produção do gás natural nacional, e a instalação das plantas de GNL. Para Tavares, apesar do esforço da Petrobras, o aquecimento na indústria mundial de petróleo e gás dificultou o cumprimento de projetos nos prazos previstos. Além disso, como estatal, a Petrobras tem procedimentos de compra mais complexos que empresas privadas.
Tavares considera também que o mercado de gás natural no Brasil poderia ser mais bem suprido se houvesse um modelo mais competitivo, já que no sistema atual há grande dependência de uma só empresa, a Petrobras. "Esse é um problema que a nova lei do gás (em tramitação no Congresso), do jeito que está, não resolve. Ela só cristaliza o poder da Petrobras."
Luiz Augusto Barroso, diretor-técnico da PSR Consultoria, também avalia que houve redução da dependência do gás boliviano com a entrada em operação de campos de gás no Espírito Santo. "O grande reforço será ampliar a produção no Espírito Santo e trazer o GNL", diz. Um dos desafios, diz ele, será reduzir a dependência do gás boliviano mesmo com crescimento da demanda interna.