Título: Perfil da indústria e acesso a emprego limitam expansão
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2008, Brasil, p. A4
A manutenção do ciclo de expansão da economia brasileira dependerá do esforço dos setores público e privado para promover mudanças em fatores que limitam o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Entre os entraves avaliados durante o 5º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas/SP estão o empobrecimento da produção industrial e o acesso limitado ao mercado de trabalho.
O perfil da indústria brasileira mudou nos últimos dez anos e há um empobrecimento da produção brasileira. Em 1996, 30,7% do valor da transformação industrial (VTI) era retirado dos setores de base (commodities, principalmente), enquanto o topo (produtos de maior valor tecnológico) garantia 27% do total. Dez anos depois, a produção "commoditizada" passou a responder por 47,2% do VTI, enquanto o topo da pirâmide encolheu para 23%, segundo dados apresentados pelo professor David Kupfer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para Kupfer, os dados revelam uma perda no valor agregado pela indústria brasileira associado a uma maior concentração da produção. Por isso, embora Kupfer veja com bons olhos o aumento do investimento produtivo (medido pela Formação Bruta de Capital Fixo, que considera os gastos em máquinas e equipamentos e na construção civil), ele também faz ressalvas. "O investimento para montar uma fábrica que vai produzir CKDs é muito menor do que o necessário para montar uma fábrica que irá produzir ao longo de toda a cadeia produtiva", observou.
Clemente Ganz Lucio, diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socio-Econômicos (Dieese), defende que o crescimento econômico de longo prazo seja associado a um aumento do nível de emprego formal. Ele observa que entre 45% e 55% da população ocupada trabalha sem carteira assinada (portanto, sem benefícios sociais) e 25% dos desempregados possuem grande dificuldade em acessar o mercado formal de trabalho.
Lúcio defende a elevação de investimentos em educação e qualificação profissional, com redirecionamento do ensino. "Hoje, 70% dos graduados trabalham fora da área que cursaram. Se as empresas quiserem aumentar a produtividade, precisam pensar na educação", diz. Ele propõe ainda que o Estado recupere sua capacidade de articular políticas públicas, lembrando que o governo federal dispõe de R$ 70 bilhões do FGTS para investir em habitação e infra-estrutura, mas tais recursos não são alocados por falta de projetos. (DN)