Título: País cresce menos em 2005, mas pode ter mais investimento
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2005, Brasil, p. A4

O economista Samuel Pessôa, da Escola de Pós-Graduação em Economia da Fundação Getúlio Vargas (EPGE-FGV), prevê que o crescimento da economia em 2005 não deverá ser a maravilha que vem sendo apregoada pelas expectativas oficiais. Pessôa estima um Produto Interno Bruto (PIB) entre 3% e 3,5% para o ano. Para ele, não será um resultado ruim após o crescimento de 5% de 2004. A atividade da economia em 2005 poderá ficar aquém da do ano passado porque não há mais capacidade ociosa para ser ocupada. O crescimento menor, contudo, vai se sustentar no investimento e na produtividade, dois indicadores que não têm andado a toda plenitude. Pessoa acredita que a adoção de medidas para elevar a eficiência microeconômica, como a recente aprovação da Lei de Falências, vai propiciar um início de recuperação da produtividade da economia como um todo. O fato pode colaborar para elevar a produtividade do capital e, portanto, contribuir para aumentar a taxa de investimento. "O investimento poderá sustentar o PIB este ano", pressagia. O economista destaca, porém, que existem problemas na economia que vão na direção contrária do crescimento e que precisam ser enfrentados. Ele cita a ineficiência por conta de um marco institucional defasado e a alta carga tributária, fatores que acabam reduzindo o ritmo do crescimento e até contaminando a inflação, como é o caso da carga tributária. Segundo ele, a experiência internacional mostra que a produtividade pode crescer muito. No Brasil, contudo, o pico da produtividade aconteceu em 1976, depois ela ficou parada nos anos 90. "Hoje dá pra dizer que a economia brasileira tem uma produtividade por volta de 70% da produtividade americana, ou seja, com o mesmo capital, mesma escolaridade e educação e mesmo capital físico que nos EUA, uma hora trabalhada no Brasil vai produzir o equivalente a 70% da hora trabalhada naquele país". Esta diferença é explicada, em boa parte, pela baixa eficiência na economia brasileira, induzida pelo marco institucional local, realça. O país trabalha com alta rotatividade da mão-de-obra, o que tem um impacto fortemente negativo sobre a produtividade. O nível de litígio trabalhista nas relações empregado e empregador é muito elevado e também é alta a informalidade, gerada pela imensa carga tributária, analisa. "O ano passado teve forte aumento da Cofins, que produziu uma elevação sem precedentes da carga tributária, reforçando uma dinâmica perniciosa de adaptação da sociedade e da economia a este cenário", pondera Pessôa. "O que acontece é que a economia vai se informalizando e o setor público tem que ir aumentando alíquotas sobre o setor formal para compensar a sonegação, gerando inconformismo na sociedade e nas empresas ante esta situação", acrescenta. Pessôa observa que ao aumentar a carga tributária sobre um setor formal cada vez menor, o governo acaba produzindo um ambiente propício a um choque de preços no atacado (IPA), pois a indústria acaba repassando parte desses custos tributários para os preços. "Por isso, a inflação do atacado é muito maior do que a do varejo , o que leva os IGPs a correrem na frente dos IPCs e como os preços administrados são reajustados com base nos IGPs isto gera uma indexação forte e a inflação não baixa e o governo tenta baixá-la com a taxa de juro", constata o economista. Pessôa destaca que a receita correta para baixar a carga tributária e reduzir a inflação é cortar gastos e reduzir juro. "A política fiscal tem de ser muito mais apertada e a política monetária muito mais frouxa para termos crescimento sustentável", diz ele. Na sua avaliação, o governo perdeu uma chance de ouro de reduzir gastos em 2004 e acabou aumentando em 25% os gastos com custeio. "O governo continua fazendo ajuste fiscal no modelo FHC: pelo lado da receita", critica Pessôa. "Eu esperava que este governo fosse diferente e estou decepcionado. Não é um governo monolítico que tenha uma visão consistente. É um governo dual, que deu uma guinada (para a ortodoxia) porque foi forçado pelos mercados, mas de certa forma foi uma guinada envergonhada e por isso, sua administração da economia fica capenga. Na primeira oportunidade de reduzir gastos, ele os aumenta", reclama. Por outro lado, ele considera que o governo está pagando juro alto quando sua prioridade número um deveria ser reduzir a relação dívida/PIB. A receita do professor de economia da FGV para o país sair desse imbróglio é "colocar o primário (superávit) onde der e a taxa de juro cai rapidamente". Isso, aliado à melhora na gestão da coisa pública para aumentar investimento público. "Apesar do primário estar alto, em 2004 houve aumento de receita - a Cofins foi uma pancada - e houve pouco investimento público. A única conclusão que tiro é que a máquina petista tem problemas de gestão", dispara.