Título: Relação dívida/ PIB deve ficar estável este ano
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2005, Brasil, p. A4

Depois da forte queda registrada em 2004, a relação entre a dívida líquida do setor público e o Produto Interno Bruto (PIB) deve ficar praticamente estável neste ano. A combinação de crescimento forte da economia, superávit primário elevado e carga menor de juros nominais - que levou o indicador a recuar de 57,2% para 51,8% no ano passado, primeira queda em 10 anos - não deve se repetir em 2005. O Brasil vai crescer menos, o esforço fiscal deve ser menor e o gasto com juros, maior. Com isso, a relação entre a dívida e o PIB, um dos principais indicadores de solvência de um país, deve ficar próxima do fechamento de 2004. O consenso de mercado projeta 51,5% para o fim do ano. A maior contribuição para a redução veio do crescimento nominal do PIB, com impacto favorável de 7,7 pontos percentuais sobre o indicador. O economista Alexandre Marinis, do Credit Suisse First Boston (CSFB), nota que a economia cresceu com força em termos reais, provavelmente algo acima de 5%, e a inflação medida pelo índice geral de preços - disponibilidade interna (IGP-DI) foi elevada, atingindo 12,1%, o que infla o PIB em termos nominais. Neste ano, a contribuição do crescimento vai ser mais modesta, afirma ele, uma vez que o Brasil vai crescer menos em termos reais - o mercado projeta algo entre 3,5% e 4% - e o IGP-DI deve registrar variação menor - Marinis estima 7%. Se o crescimento foi o fator que mais ajudou na redução da relação dívida/PIB, a carga de juros nominais foi o que mais atrapalhou em 2004. A contribuição foi negativa em 6,9 pontos percentuais, um número elevado, mas abaixo dos 9,1 pontos de 2003. O economista Maurício Oreng, do Unibanco, espera uma carga maior de juros em 2005. Ele estima Selic média de 18,1% no ano, acima dos 16,2% de 2004. Marinis já acredita que o peso dos juros nominais deve ser semelhante ao do ano passado. Ele lembra que a taxa Selic vai ser mais alta, mas a inflação será menor. Outro fator decisivo para a queda da relação dívida/PIB em 2004 foi o superávit primário, que atingiu 4,61% do PIB. Como a meta para este ano é de 4,25% do PIB, o esforço fiscal vai ter um impacto menor sobre o indicador. Para Marinis, a relação dívida/PIB caminha na direção correta, mas seria importante acelerar a redução do indicador. Ele avalia que o fato de a dívida líquida corresponder a 51,8% do PIB, número alto para emergentes, é uma das principais explicações para o nível elevado dos juros no Brasil. No México, o indicador está em 35% do PIB. Reduzir essa relação mais rapidamente seria uma forma de ter juros mais baixos, afirma. Marinis ressalta que essa é a única variável com impacto sobre a relação dívida/PIB sob controle do governo. O câmbio é outro fator importante para a trajetória do indicador. Mas, como lembra Marinis, o peso do dólar é bem menor hoje, já que o governo vem reduzindo a dívida cambial. Uma desvalorização de 1% da moeda aumenta a relação dívida/PIB em 0,1 ponto percentual. Em setembro de 2002, o impacto era de 0,37 ponto. Oreng aposta que o indicador terminará o ano na casa de 50% do PIB. É uma queda modesta, afirma, mas positiva por continuar a trajetória iniciada em 2004. O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, por sua vez, aposta em indicador estável. Marinis estima que, se o câmbio fechar o ano em R$ 2,90 (projeção do CSFB), a relação dívida/PIB ficará acima de 52%. Um dólar mais barato jogaria o indicador para baixo.