Título: Bolívia é pressionada a aceitar mediação
Autor: Souza, Marcos de Moura e; Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2008, Internacional, p. A10

O presidente da Bolívia, Evo Morales, foi pressionado ontem na reunião de emergência ocorrida no Chile com a participação de outros sete presidentes sul-americanos a aceitar uma mediação internacional para a crise que sacudiu a Bolívia na semana passada. AP O presidente da Bolívia, Evo Morales, participa da cúpula de emergência ontem em Santiago, no Chile, ao lado da presidente chilena Michelle Bachelet

O governo da presidente do Chile, Michelle Bachelet, que convocou o encontro, apresentou uma proposta aos presidentes da União de Nações Sul-americanas (Unasul) de envio de uma missão à Bolívia para acompanhar um possível diálogo entre governo e oposição.

A missão, segundo o chanceler chileno, Alejandro Foxley, só iria ao país se aprovada pelo governo Morales. A idéia, disse o chanceler, é a "instalação de uma mesa de diálogo que pode ser acompanhada pela presidência "pro-tempore" da Unasul". Se a proposta for aceita, representantes dos governos da região iriam à La Paz com o secretário-geral da Organização dos Estados Americano, José Miguel Insulza, "para conversar com todos os setores que hoje têm diferenças importantes", disse Foxley.

Uma fonte diplomática ouvida pelo Valor disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva perguntou a Morales, no encontro a portas fechadas, de que forma a Unasul poderia ajudar na solução da crise.

Na semana passada, o governo brasileiro chegou a preparar uma missão à Bolívia, mas a viagem acabou não ocorrendo porque, no auge da crise, La Paz sinalizou que não queria se ver pressionada a negociar com os opositores.

Uma mediação é bem-vinda pelos governadores oposicionistas. O governador de Tarija, Mario Cossío já enviou cartas aos embaixadores dos países que integram o grupo de países amigos da Bolívia - Argentina, Brasil e Colômbia - pedido que intervenham. "A mediação garantiria que fossem cumpridos certos acordos durante as negociações", disse ao Valor Sergio Lea Plaza, assessor de Cossío.

Apesar de ter convocado um diálogo com a oposição, Morales, agiu ontem mais como incendiário do que como bombeiro. Logo que chegou a Santiago, disparou contra opositores. "Venho aqui explicar aos presidentes da América do Sul um golpe de estado cívico-prefeitural de alguns departamentos gestado nos últimos dias.

"A declaração pode entorpecer o diálogo", disse Plaza. No fim de semana, Cossío iniciou diálogo com o vice-presidente Alvaro García Linera. Ontem, grupos opositores haviam desfeito alguns bloqueios em estradas pelo país. Não houve mais confrontos.

Além de Bachelet, Morales e Lula participaram do encontro em Santiago, os presidentes da Argentina, Venezuela, Equador, Uruguai e Paraguai. A Colômbia enviou um representante do presidente.