Título: Com juro mais alto, vendas no varejo caem
Autor: Rosas, Rafael
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2008, Brasil, p. A4
O volume de vendas do comércio varejista nacional diminuiu 0,2% em julho em relação ao mês anterior, na série com ajuste sazonal, interrompendo quatro meses de crescimento. No confronto com julho de 2007, as vendas foram 11% maiores, enquanto nos sete primeiros meses do ano, a alta atingiu 10,6%, sempre considerando a série de volume de vendas do comércio, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A queda nas vendas em julho já reflete o efeito dos aumentos da taxa básica de juros pelo Banco Central ao longo do ano, na avaliação do IBGE. Porém, segundo o instituto, a tendência de desaceleração, observada pela média móvel trimestral, pode não se confirmar, uma vez que os prazos para financiamento no comércio não foram reduzidos. "O aumento da classe média no país traz uma demanda reprimida muito grande. A tendência de desaceleração, como mostra a média móvel, pode ser muito lenta se não se mexer no número de prestações", ressaltou o coordenador de serviços e comércio do IBGE, Reinaldo Pereira.
A queda no volume de vendas em julho foi o primeiro recuo desde fevereiro, quando o índice teve baixa de 0,9% frente ao volume de vendas de janeiro. Já a média móvel trimestral passou de 0,84% em junho para 0,63% em julho, na segunda desaceleração seguida.
A inflação também teve peso no resultado de julho. O grupo hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo - o de maior participação no índice fechado -- registrou queda de 0,2% no volume de vendas, enquanto a receita frente a junho subiu 0,6%, na mesma direção da receita do comércio varejista como um todo, que avançou 0,5%. Em relação a julho de 2007, a receita nominal de vendas subiu 18,5%. No acumulado do ano, a elevação correspondeu a 16,3%. Em 12 meses, o acréscimo chegou a 15%.
Para Pereira, o efeito do aumento de preços em julho pode não ter efeito prolongado, uma vez que os índices de inflação têm seguido tendência mais comportada. Além disso, Pereira explica que ainda não há garantias de que a crise internacional vá ter efeito na economia real brasileira, enquanto o calendário eleitoral garante a injeção de mais dinheiro na economia, o que acaba contribuindo para o aumento da demanda. "A inflação já arrefece e com isso diminui a possibilidade de aumento dos juros. Pode ser que o BC não precise aumentar a taxa na próxima reunião ou então que o aumento seja menor", ponderou.
Em relação a julho de 2007, todas as atividades do varejo registraram aumento no volume de vendas, com destaque para móveis e eletrodomésticos (19,6%), hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (5,4%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (21,3%), combustíveis e lubrificantes (15%) e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (15,1%).