Título: Construtoras seguem rota dos novos pólos
Autor: D"Ambrosio, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2008, Empresas & Tecnologia, p. B7

Construtoras seguem rota dos novos pólos

As construtoras definiram uma nova rota de atuação: pólos industriais com carência habitacional. A idéia é atuar em locais com demanda garantida, onde já existe ou está para chegar um grande fluxo populacional de trabalhadores que participam da construção de grandes projetos e precisam de moradias populares. As construtoras seguem a trilha de companhias como Vale do Rio Doce , Petrobras e Odebrecht e fincam o pé em todo o país: de Porto Velho (RO) e Parauapebas (PA) a Duque de Caxias (RJ) e Rio Grande (RS). Carol Carquejeiro/Valor Hannud, vice-presidente da Developer: maior facilidade para conseguir terrenos

A empreitada não é simples. Ser pioneiro nesse mercado significa atuar a milhares de quilômetros dos grandes centros, desbravar o interior do Brasil e montar, em cada empreendimento, estruturas completas de suporte à população local - que vão da simples concepção de parques e praças até a criação de centros de comércio, creches, escolas e postos policiais.

A Developer, braço popular da JHSF - que agora está lançando nacionalmente a marca Quero Brasil, de nome mais fácil para o público de baixa renda - já nasceu com esse conceito. A empresa, adquirida em maio, fará três lançamentos até o fim de setembro. Na próxima semana, abre estande de vendas em Feira de Santana e, daqui a cerca de 15 dias, lança um empreendimento popular em Camaçari. O pólo de Camaçari - com empresas químicas, petroquímicas, automotivas, de celulose, metalúrgicas e têxteis - fatura US$ 14 bilhões ao ano e gera 13 mil empregos diretos e 20 mil indiretos.

O terceiro lançamento da Developer acontece em Palmas para aproveitar tanto a demanda populacional gerada pela ferrovia Norte-sul, da Vale do Rio Doce, como também pelas usinas de cana-de-açúcar que estão sendo instaladas na região. Para oferecer moradia ao contingente que irá desembarcar em Porto Velho, cidade banhada pelo Rio Madeira, onde estão serão construídas as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, a Developer comprou um terreno de 500 mil metros quadrados.

Todos os projetos da Developer terão um pequeno centro de varejo, com padaria, farmácia, supermercado, posto de gasolina e lojas de calçados e eletrodomésticos. Mas a empresa também está fechando parceria com as prefeituras e terá dentro dos empreendimentos creches, posto de saúde, posto policial e escola para a primeira infância. "Como damos condições de as pessoas baratearem a vida, sobra mais dinheiro para pagar as prestações", diz Marcelo Hannud, da Developer.

Apesar das dificuldades logísticas que esse tipo de empreendimento certamente terá, já que os principais fornecedores estão no sudeste, as empresas apostam que a falta de concorrência, a desobstrução dos órgãos públicos e a garantia de demanda compensam a distância. "A facilidade de conseguir terrenos e de aprovar projetos é muito maior", diz Hannud.

A lógica desses novos bairros é sempre a mesma: terrenos enormes, com empreendimentos lançados em várias fases e casas de pelo menos cinco tamanhos diferentes, com unidades que custam de R$ 60 mil a R$ 100 mil. Nesse tipo de negócio, construir rápido e barato é fundamental para garantir rentabilidade. Para ter escala, as empresas adotam a construção modular, na qual os moldes são feitos nos próprios canteiros.

A W Torre, através do seu braço residencial Guanandi, tem a mesma estratégia. "A nossa atuação está baseada na criação de espaços urbanos, fora de grandes centros e próximas a áreas de expansão", afirma Marco Antonio Bologna, presidente da companhia.

A empresa está fazendo um grande empreendimento em Parauapebas - próximo do projeto de ferro Carajás e ao lado da Estrada de Ferro de Carajás, da Vale, - com duas mil casas populares em um terreno de 7 milhões de metros quadrados. O valor geral de vendas da primeira fase é de R$ 222 milhões. A previsão é construir até 12 mil unidades habitacionais nos próximos cinco anos.

A WTorre também já fechou a compra de um terreno de 1 milhão de metros quadrados de uma área total de três milhões em Rio Grande (RS), onde a Petrobras constrói um dique-seco. Pretende erguer no local duas mil unidades na primeira fase e deverá construir seis mil casas em todo o projeto.

A carioca Fator Realty escolheu Duque de Caxias (RJ), dona do maior parque industrial do Estado, com 1,6 mil indústrias de diferentes setores, para criar um mini bairro. Irá fazer todo o tratamento de água da região, com reutilização de águas pluviais e sistema de tratamento de esgoto.