Título: Kassab lança programa em ato que divide tucanos
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2008, Política, p. A7

Os tucanos que estão integrados na campanha pela reeleição do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), fizeram ontem uma reafirmação de sua posição dissidente no partido, um dia depois de o candidato do PSDB à prefeitura, Geraldo Alckmin, atacar diretamente o oponente no horário eleitoral gratuito de rádio e TV. O ato a favor de Kassab aconteceu durante o lançamento do programa de governo do candidato, em um recinto fechado lotado por militantes. Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem Walter Feldman, Kassab, Guilherme Afif Domingos e Jorge Bornhausen: "Que nos desculpem, mas nós não vamos nos preocupar com a campanha deles"

"Estamos absolutamente à vontade. Estaria traindo minha consciência se estivesse em outro palanque", afirmou o secretário de Esportes, Walter Feldman, que é deputado federal pelo PSDB. "São Paulo deve sufragar o nome de Gilberto Kassab" pediu o ex-ministro da Justiça e secretário de Direitos Humanos da prefeitura, José Gregori, um tucano próximo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que apóia Alckmin.

Durante o evento, o governador paulista José Serra (PSDB) antecessor de Kassab na prefeitura e incentivador de sua candidatura à reeleição, foi insistentemente citado e chegou a ser chamado de "líder" pelo candidato do DEM. "Hoje ele é o grande líder da aliança que existe em São Paulo, que envolve sim o PSDB, o DEM, o PMDB, o PV, o PPS e o PSC", afirmou o prefeito.

Durante o evento, Kassab manteve a estratégia de atacar apenas a adversária do PT, a ex-ministra do Turismo e ex-prefeita Marta Suplicy, que lidera as pesquisas, ignorando Alckmin. O prefeito mencionou em seu discurso a acusação de que Marta entregou a prefeitura em má situação financeira. Ao apresentar o programa de governo, os secretários municipais, que redigiram as propostas para o próximo mandato, frisaram que encontraram problemas de gestão em suas Pastas.

Ao encerrar sua fala, Kassab procurou ser explícito na estratégia de de não polemizar com Alckmin. "Esperem de nós a apresentação e o debate de propostas. Os nossos adversários querem atrapalhar a vida do eleitor e nos desviar do caminho. Que nos desculpem, mas nós não vamos nos preocupar com a campanha deles", disse.

Entre os presentes, apenas duas ausências no secretariado municipal: a do titular de Serviços e Obras, Dimas Ramalho, cujo partido é o da candidata a prefeita Soninha Francine (PPS) e o de Subprefeituras, Andrea Matarazzo, que nos dois primeiros anos de governo Kassab foi o seu mais importante auxiliar. Interlocutores do prefeito afirmaram que, em razão de ligações de amizade com tucanos que permanecem fiéis a Alckmin, Matarazzo estaria se mantendo afastado da campanha do integrante do DEM. Por meio de sua assessoria de imprensa, o secretário afirmou que teve que se retirar do evento em razão de problemas de saúde na família.

O programa de governo de Kassab, coordenado pelo secretário estadual licenciado do Trabalho, Guilherme Afif Domingos (DEM), não carrega nenhuma marca emblemática. Limita-se a relacionar como propostas as metas para os próximos anos de políticas administrativas que já estão em curso. Entre estas, a meta de zerar o déficit de vagas em educação infantil e de creches, um dos temas utilizados por Alckmin para atacar a gestão do prefeito. "Só o atual prefeito pode resolver este problema, porque sua gestão fez mais do que todas as outras juntas", afirmou em seu discurso o secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider. O secretário prometeu ainda reduzir de três turnos para dois turnos as classes escolares, aumentando o tempo de permanência em aula. A existência do chamado "turno da fome", com aulas entre 11 horas e 15 horas, é outro tema constante de ataques ao governo municipal.