Título: Diretor da Polícia Federal dá voz de prisão a segundo da hierarquia
Autor: Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2008, Política, p. A8

A Polícia Federal prendeu, ontem, o número 2 da Polícia Federal, o diretor-executivo, Romero Menezes. A ordem de prisão foi dada pelo diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, às 10h, por suspeita de advocacia administrativa. Constrangido, Corrêa teve de obedecer ao pedido de prisão feito pelo Ministério Público e determinado pela Justiça.

A prisão foi um desdobramento da Operação Toque de Midas, que envolveu a MMX, mineradora do grupo do empresário Eike Batista. Em 11 de julho, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão de documentos na casa de Eike e na sede de empresas de seu grupo. O objetivo foi investigar uma suposta fraude na licitação da Estrada de Ferro do Amapá para a MMX. O episódio levou a uma queda nas ações de empresas de Eike. A MMX teve queda de 10% na Bolsa de Valores de São Paulo. A EBX caiu 9,78% e a OGX, 10,51%.

O grupo negou as acusações e contratou o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para fazer a sua defesa. Thomaz Bastos foi responsável pela reforma na PF iniciada em 2003, que levou a um "boom" de operações contra o crime organizado. Na época, a instituição era comandada pelo delegado Paulo Lacerda, que continua próximo de Thomaz Bastos.

Agora, a PF terá de investigar se Romero Menezes utilizou o cargo na instituição para favorecer o a empresa de seu irmão José Gomes de Menezes Júnior, que presta serviços para a MMX, no Amapá. Menezes foi afastado do cargo e ficará preso por pelo menos cinco dias, prazo que pode ser prorrogado por igual período. Como é policial federal, ele ficará sozinho em uma cela especial na carceragem Superintendência da PF. O cargo de Menezes será ocupado pelo diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Troncon.

Troncon também foi surpreendido pela prisão de Menezes. Ele explicou que a prisão é temporária e foi pedida apenas para evitar que Menezes interferisse nas investigações. "É para garantir a coleta de provas", enfatizou. "Não é uma situação corriqueira, mas a PF cumprirá determinações judiciais contra quem quer que seja", completou.

Troncon negou que o MP tenha acusado Menezes de vazar informações sobre a operação. Segundo ele, o que motivou a prisão foi o fato de a empresa do irmão de Menezes ter prestado serviços para a MMX e daí vem a suspeita de advocacia administrativa e tráfico de influência. Ele também negou que a prisão tenha relação com a disputa entre a PF e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin). "É mais uma coincidência", afirmou o novo diretor-executivo. Paulo Lacerda foi afastado do comando da Abin depois de ter disponibilizado agentes para ajudar o delegado Protógenes Queiroz nas investigações sobre o banqueiro Daniel Dantas e o banco Opportunity, na Operação Satiagraha. Corrêa não foi devidamente informado sobre a ajuda da Abin naquela operação. Agora, foi o grupo de Corrêa que sofreu uma baixa com a prisão de Menezes. "(Esse episódio) não tem nada a ver com a Satiagraha", insistiu Troncon. "Não há cisão ou disputa de poder na PF. Somos todos servidores policiais e a PF tem dado provas de que, não importa o quanto seja doloroso para o servidor, nós aplicamos as medidas da regra do jogo", declarou.