Título: Mantega destaca escudo das reservas de US$ 200 bi
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 16/09/2008, Finanças, p. C3

Mantega destaca escudo das reservas de US$ 200 bi

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ressaltou ontem a solidez da economia brasileira para enfrentar o agravamento da crise no sistema financeiro americano, enfatizando especialmente o escudo propiciado pelas reservas internacionais de mais de US$ 200 bilhões. Para Mantega, a piora do cenário internacional traz a perspectiva de alguma desaceleração da atividade econômica e torna o crédito externo mais caro e mais escasso, mas não vai tirar o Brasil da rota do crescimento sustentado. Marisa Cauduro / Valor Para Mantega, "em outras circunstâncias, o Brasil já estaria de quatro, já estaria de joelhos". Ele prevê que a economia cresça entre 5% e 5,5% neste ano

"Em outras circunstâncias, o Brasil já estaria de quatro, já estaria de joelhos", afirmou ele, para quem a economia deve crescer entre 5% e 5,5% neste ano, moderando o ritmo de expansão para 4,5% no que vem. "Se não fosse a crise externa, o país poderia crescer 6% a 6,5% em 2009 e assim por diante", disse o ministro, que participou do 5º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizado ontem em São Paulo.

O ministro afirmou que a crise atual tem como "epicentro" os países desenvolvidos, devendo comprometer mais fortemente o crescimento dos EUA, da Europa e do Japão. "O problema é lá, o problema não é aqui", disse Mantega, acrescentando que o Brasil continua uma das "melhores opções de investimento do mundo". "Se há algum lugar em que as empresas ainda podem ganhar dinheiro e ter lucros, é o Brasil."

Para Mantega, a alta do dólar ocorrida nas últimas semanas não deve causar estragos relevantes na inflação. "A desvalorização do câmbio tem sido compensada pela queda forte das commodities. Está zero a zero", afirmou ele, notando para quem a economia global vai passar por um período de desaceleração, centrada no mundo desenvolvido. Nesse cenário, a demanda por commodities deve cair, reduzindo as cotações desses produtos, destacou.

Mantega disse que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve ficar abaixo de 6,5%, o teto da banda de tolerância da meta de inflação - uma situação raríssima na economia global atualmente. "Talvez o Brasil seja o único país do mundo a realizar essa proeza."

O ministro disse que, se for preciso, o governo pode usar o "arsenal fiscal e monetário" de que dispõe para responder à piora no cenário externo e seu eventual impacto sobre a inflação. No cenário atual, porém, não há necessidade de novas ações, afirmou ele, destacando que não há "nenhuma medida no forno". Mantega lembrou que o Banco Central (BC) está promovendo um ciclo de alta de juros e que a Fazenda já elevou a meta de superávit primário de 3,8% para 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB), além de ter elevado o compulsório sobre as operações de leasing e reduzido impostos sobre os combustíveis e o trigo.

Em sua apresentação, Mantega insistiu que o Brasil vive uma fase de expansão da economia robusta e de qualidade. Ele destacou que o investimento teve alta de 15,5% nos 12 meses terminados em junho, quase três vezes o ritmo de avanço do PIB. A construção civil vive um boom no país, tendo crescido 9,9% no segundo trimestre, notou ele. "Eu ouso dizer que o Brasil vai continuar a ter um ciclo de crescimento sustentado."

Mantega minimizou ainda as oscilações de curto prazo dos mercados, reforçando que são movimentos normais em momentos de nervosismo. Ele ressaltou, por fim, que não vê nenhum problema nos bancos brasileiros. Para o ministro, eles continuam sólidos e não serão afetados pela crise financeira internacional.