Título: Governo pode compensar a paralisação do crédito
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2008, finanças, p. C5

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem aos integrantes da coordenação política que a crise financeira americana não deverá atrapalhar a taxa de crescimento da economia brasileira para este ano, projetada por ele entre 5,3% e 5,5%. Se houver algum tipo de repercussão negativa para o país, mencionou o ministro, isso só acontecerá em 2009. "Temos uma balança comercial diversificada, apenas 15% das nossas transações - US$ 40 bilhões - são feitas com os Estados Unidos. Nosso ajuste fiscal está correto e temos um colchão de US$ 205 bilhões em reservas externas", explicou o ministro. Ruy Baron / Valor Mantega: "É uma crise de capital de giro, não há dinheiro disponível"

Ele está preocupado, contudo, com a escassez de crédito externo para as empresas brasileiras e, segundo fontes da área econômica, o governo estuda a possibilidade de adotar medidas para compensar uma eventual paralisia do crédito internacionais por meio de fontes internas, como empréstimos do BNDES, por exemplo.

Segundo Mantega, a crise americana, iniciada em julho de 2007, agravou-se novamente com a divulgação dos balanços dos bancos americanos. "É uma crise de capital de giro, não há dinheiro disponível no mercado", avaliou para os demais integrantes do núcleo central do governo. No caso do Lehman Brothers, por exemplo, ele teria pedido dinheiro ao Banco Central americano, que o aconselhou a procurar no mercado. Como não conseguiu encontrar comprador, acabou tendo de pedir concordata. Segundo Mantega, o próprio mecanismo interbancário, no qual os bancos emprestam dinheiro entre si para garantir a liquidez do mercado, passou a não surtir efeito. "Como todos estão desconfiados da fragilidade uns dos outros, acabam segurando o dinheiro, por precaução", disse o ministro da coordenação política, José Múcio Monteiro, ao fazer um relato da reunião de ontem.

O ministro da Fazenda, que praticamente monopolizou o encontro - a crise na Polícia Federal, com a prisão do diretor executivo Romero Menezes, ocupou apenas cinco minutos e o impasse na Bolívia sequer foi mencionado -, assegurou que, apesar de um percentual alto, a queda na bolsa brasileira não deve ser motivo de tanta preocupação. Na justificativa, estaria o fato de que os principais papéis brasileiros, como Vale e Petrobras, estão sofrendo oscilações, mas as empresas em si são sólidas, diferentes dos papéis que estão puxando a bolsa americana para baixo.

Mais cedo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou que a situação do Brasil é tranqüila, mas é necessário atenção com o momento. "Como um médico que faz uma cirurgia no paciente e precisa ficar acompanhando a recuperação, não pode ir para casa", comparou. O presidente falou que tem conversado constantemente com economistas, presidentes e primeiro-ministros de todo mundo e que ninguém tem a exata dimensão da crise, porque "cada dia surge uma surpresa nova". Para Lula, "isso demonstra o tamanho do cassino que foi montado".

Lula demonstrou alívio ao afirmar que, até o momento, o sistema bancário brasileiro está protegido, "por não ter se envolvido com a crise do subprime". Pela manhã, no Palácio do Planalto, durante recepção ao primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, Lula brincou dizendo que perguntas sobre a crise deveriam ser feitas "ao presidente Bush" e que, no caso brasileiro, os impactos seriam praticamente "imperceptíveis