Título: Shopping centers retomam planos de ampliação e de novos projetos
Autor: Janaina Vilella e Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2005, Empresas &, p. B1

O aquecimento da economia brasileira está surtindo efeitos sobre o setor de shopping centers. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já conta este ano com uma carteira de pedidos de financiamento de R$ 130 milhões para projetos de construção e expansão de shoppings, que precisam dar conta do aumento das demandas de consumidores e lojistas. A informação é de Carlos Castello Branco, chefe do departamento da área de serviços da instituição de fomento. Embora baixo diante de toda a demanda do setor, esse valor representa mais que o dobro dos R$ 59 milhões liberados no ano passado, que por sua vez significam 150% menos do que o volume de recursos desembolsados para o setor em 2003. Em janeiro, já foi aprovado o primeiro crédito, que destina R$ 13 milhões para a expansão do Morumbi Shopping, em São Paulo. Para os executivos do setor, os sinais são de que a nova administração do banco tende a ampliar o apoio à área de serviços, com destaque para o comércio. Esse posicionamento era esperado com ansiedade, pois desde que os fundos de pensão deixaram de investir nos shoppings, o BNDES tornou-se praticamente a única alternativa para o setor obter crédito a taxas de juros mais em conta. O vice-presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), Claudio Guaranys, conta que o segmento foi "extremamente prejudicado", em 2004, pela mudança de política de concessão de crédito implementada pela administração de Carlos Lessa, quando foi vedado o apoio aos shoppings no âmbito do BNDES Automático. Nesta modalidade de crédito, o agente financeiro processa e encaminha o pedido de recursos diretamente para a área de operações indiretas do banco. Apesar de a regra ainda estar oficialmente em vigor, Guaranys acredita que o banco tem se mostrado mais flexível, o que vai facilitar, segundo ele, os planos de expansão do setor para os próximos dois anos. Pesquisa da AC/Nielsen revela que mais da metade dos shoppings brasileiros pretende fazer algum tipo de expansão até 2006, o que representa investimentos de R$ 3 bilhões. O montante é praticamente igual ao que foi investido pelo setor nos últimos cinco anos, de R$ 3,3 bilhões. De acordo com a Abrasce, além dos projetos de expansão, ainda estão previstos até 2006 a construção de 21 novos empreendimentos, o que representa investimentos da ordem de R$ 1,2 bilhão. "Apesar de o BNDES não ter mudado formalmente sua política, a nova administração tem um entendimento melhor do segmento. A gestão anterior parecia vedar o crédito ao empresariado. O shopping center é um setor de serviços, tem a sua parte social e deve ser encarada como tal", disse Guaranys. O fator aumento de renda e de consumo acelerou a necessidade de elevar e adaptar instalações (inclusive estacionamentos) para dar conta das demandas maiores. De um lado, há mais consumidores chegando e, de outro, muitos lojistas querendo um espaço, que só será possível oferecer por meio da ampliação. "O aquecimento da economia está influenciando, sem dúvida, nossas decisões", diz Luiz Alberto Quinta, superintendente da Renasce, administradora de shoppings do grupo Multiplan, o maior do setor. "Encomendamos estudos que mostram que todas essas ampliações serão perfeitamente absorvidas pelo aumento da demanda. Basta ver que há expansões que só estarão prontas em dois anos, mas 40% dos contratos com as lojas já estão fechados", diz Quinta, que está expandindo dois empreendimentos do grupo: o Morumbi Shopping, em São Paulo, e o Diamond Mall, em Belo Horizonte. As duas expansões envolvem investimentos de mais de R$ 100 milhões no total. Pelo menos cinco grandes shoppings cariocas - incluindo o Rio Sul, o Norte Shopping e o Shopping Tijuca - já anunciaram que farão expansão nos próximos dois anos. "Vários shoppings foram construídos nas grandes cidades há muito tempo. O entorno mudou, a população cresceu. É uma mudança de perfil. Além disso, o cenário econômico tem dado sinais de melhora, o que dá um fôlego extra para o setor", diz Castello Branco. A Brascan Shopping Center, por exemplo, vai investir R$ 30 milhões na terceira expansão do Rio Sul, um dos mais tradicionais do Rio, que completa 25 anos neste ano. A nova ala terá sete salas de cinema, que serão operadas pelo grupo Severiano Ribeiro, um supermercado, restaurantes, além de um novo andar de garagem. A Awal, empreendedora carioca, vai investir R$ 50 milhões na ampliação das instalações do Shopping Tijuca, na Zona Norte do Rio. O projeto prevê um aumento de 36% no número de vagas de estacionamento, passando das atuais 1,1 mil para 1,5 mil, e a construção de um novo piso de lojas no subsolo, seis salas de cinema, três megalojas, uma loja âncora e três torres de negócios, onde funcionarão 200 salas comerciais, consultórios e escritórios.