Título: Governo espera queda de 37% no saldo comercial deste ano em relação a 2007
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2008, Brasil, p. A2

As exportações brasileiras devem atravessar com vigor a atual crise financeira internacional e chegar a US$ 200 bilhões, mas os aumentos nas importações, especialmente de petróleo, devem levar o saldo do comércio exterior do Brasil para US$ 25 bilhões (uma queda de 37% em relação a 2007), informou ao Valor o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, arriscando-se, pela primeira vez, a citar uma previsão para o resultado do comércio exterior. "O saldo deveria ir a US$ 35 bilhões, mas o déficit na balança de petróleo, devido a problemas com plataformas da Petrobras, deve chegar a quase US$ 10 bilhões", comentou.

A previsão de Miguel Jorge é pouco superior às do setor privado divulgadas pelo boletim Focus, do Banco Central, que estão em US$ 23,75 bilhões. Com esse desempenho das exportações, o país pode chegar a um déficit de quase US$ 24 bilhões nas transações correntes (operações de comércio, serviços e rendas do Brasil com outras nações). Para o governo, a manutenção do alto patamar de investimentos externos deverá ser suficiente para cobrir esse déficit, mas o aumento no déficit de transações correntes preocupa a equipe econômica. Em 2007, o superávit da balança comercial foi de US$ 40 bilhões, quase 14% abaixo do registrado no ano anterior, e o resultado da conta corrente foi positivo em US$ 1,7 bilhão.

Para o ministro do Desenvolvimento, embora a disseminação da crise esteja levando à desaceleração das economias nos maiores mercados e à queda dos preços dos produtos básicos, os exportadores brasileiros desses produtos serão beneficiados pela valorização do dólar, que eleva os ganhos com os produtos, quando medidos em reais. "Uma coisa compensa a outra, estamos elas por elas", comentou. "Os preços das commodities, caíram 15% a 20%, mas o dólar valorizou mais ou menos na mesma medida, e pode aumentar um pouco mais."

Miguel Jorge reconhece que a situação delicada no mercado financeiro deve levar a um aperto no crédito, mas demonstra irritação ao ver comentários sobre possíveis impactos no sistema bancário brasileiro, que ele descarta. "Isso é muito parecido com o que enfrentamos no ano passado, no início da crise do subprime", diz ele, lembrando o começo do aumento na inadimplência em hipotecas de má qualidade no mercado americano. "Mas os bancos brasileiros são muito fortes, não são alavancados pelas mesmas operações que levaram à crise lá fora. São alavancados por operações no Brasil", argumenta o ministro, ex-executivo do banco Santander.