Título: Paraguai e Brasil discutirão Itaipu
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2008, Brasil, p. A3
Sergio Leo, de Brasília 18/09/2008
Paraguai e Brasil discutirão Itaipu
Na expectativa de criar alternativas às reivindicações paraguaias de mudanças no tratado de constituição da hidrelétrica binacional de Itaipu, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concordou ontem com o presidente paraguaio, Fernando Lugo, em dar início formal a negociações técnicas sobre o assunto. Segundo indicou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o Brasil tem boa vontade, mas não alterou sua determinação de rejeitar os pedidos paraguaios de permissão para vender energia de Itaipu a terceiros países, mudar critérios de nomeação das diretorias da usina e rever o tratado. Moacir Lopes Junior/Folha Imagem
Fernando Lugo, presidente do Paraguai: com vontade política, Tratado de Itaipu poderá ser revisto
"Todos conhecem as posições dos presidentes, dos governos em relação a esses pontos. Não diria que houve nenhuma mudança em relação a essa questão", afirmou o ministro. "Vamos abrir a mesa de negociações porque podem surgir idéias criativas e que encontremos boas soluções", argumentou.
Amorim e o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Alejandro Hamed, anunciaram, após o encontro de Lugo e Lula, que os dois governos decidiram começar a negociação pelos números relativos às dívidas e pagamentos de Itaipu. Os paraguaios questionam o valor que, segundo os brasileiros, é pago ao Paraguai pela energia fornecida por Itaipu ao Brasil e também têm restrições ao montante declarado da dívida, hoje ainda por volta de US$ 19 bilhões, a serem quitados até 2023, quando se encerra o tratado.
"A questão dos números é importante. Se trabalhamos com números diferentes chegaremos a conclusões diferentes, é preciso acertar essa base", argumentou Amorim, com a concordância de Hamed. Os paraguaios se queixam por receber US$ 2,50 por MWh como pagamento pela energia não usada pelo país e vendida ao Brasil. Os brasileiros argumentam que esse valor não leva em conta o pagamento feito pelo Brasil ao Paraguai e destinado à amortização da dívida, que faz o preço da energia paga pelo Brasil chegar a mais de US$ 45.
A mesa de negociações sobre Itaipu deverá estar em funcionamento dentro de dez dias, e, ontem, antes do encontro com Lula, Lugo reiterou sua convicção de que o Tratado de Itaipu deve ser revisto, para incluir propostas como a permissão de venda da energia da usina, pelo Paraguai, a outros países da região. Os dois ministros anunciaram ainda que, em três semanas, será iniciada uma negociação entre os ministérios da Fazenda, Indústria e Desenvolvimento e Relações Exteriores dos dois países para verificar projetos de investimento e financiamento de infra-estrutura e complexos industriais em território paraguaio, com apoio brasileiro. Amorim disse que um dos primeiros desses projetos será a construção de uma linha de transmissão de alta potência para levar energia de Itaipu à capital paraguaia, Assunção.
Antes, em São Paulo, onde se encontrou com membros da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Lugo havia dito que uma mudança nas regras do Tratado de Itaipu vai depender da vontade política dos governos dos dois países. (colaborou Murillo Camarotto)