Título: Alta do preço do boi magro afeta os negócios com confinamento
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2008, Agronegócios, p. B12

O confinamento de animais não vai crescer este ano - e pode até ter pequeno recuo - por conta da falta de boi magro e da alta dos custos da ração no país. Antes de os animais magros "desaparecerem", a Assocon, que reúne 48 confinadores em seis Estados, previa um aumento de 20% no número de bois criados sob engorda intensiva nos estabelecimentos de seus associados. Agora, na previsão mais otimista, o número, que foi de 500 mil animais em 2007, deve crescer 6%, de acordo com Juan Lebrón, diretor operacional da Assocon. Na estimativa mais realista, fica estável ou cai um pouco. Sergio Zacchi / Valor Merola: A crise financeira preocupa. "Se a quebradeira for muito longa, irá contaminar países em desenvolvimento", clientes da carne bovina brasileira."

Considerando que os demais confinadores do país também vêm enfrentando os mesmos percalços, a previsão da Assocon é de que o número total de animais confinados no território nacional, estimado em 3 milhões de cabeças no ano passado, também fique estável ou recue um pouco. "Durante o ano, as maiores dificuldades foram comprar boi magro e o aumento dos insumos", disse Ricardo Merola, presidente da associação, que promove em Goiânia a Conferência Internacional de Confinadores.

"O que os frigoríficos sentem com a falta de boi gordo, os confinadores sentem com a falta de boi magro", observou Fábio Dias, diretor-executivo da associação, segundo quem esse cenário de escassez vai perdurar até 2011 - e os frigoríficos vão continuar a trabalhar com capacidade ociosa.

Os preços do boi magro já perderam um pouco de força, depois de terem chegado a R$ 105 a arroba em alguns casos nos meses de maio e junho, mas o ágio em relação ao boi gordo ainda está na casa dos 10% a 15%, segundo Merola. A boa notícia, diz, é que a oferta de gado magro voltou a aparecer.

Apesar da expectativa de que o confinamento não cresça este ano, a participação dos animais criados sob esse regime de engorda no abate do país deve aumentar. Em 2007, da estimativa de 44 milhões abatidos, 3 milhões foram provenientes de confinamentos. Com a previsão de queda de 20% a 30% nos abates este ano, o número total ficará abaixo de 40 milhões, segundo Dias, enquanto o de bois confinados deve ficar praticamente estável.

Ainda é difícil fazer previsões para 2009, mas Merola afirma que a tendência é que o confinamento de animais siga crescendo no país. "Confinar bois é um caminho natural para um país que se tornou potência agrícola", diz Fábio Dias. Segundo ele, estimativas indicam que cada tonelada de produto agrícola produzida gera 300 toneladas de resíduos. A utilização de tais resíduos (bagaço de cana, palha de milho) na ração é um dos destinos possíveis, afirma, além da geração de energia. "Ou se faz isso ou deixa apodrecer e virar metano".

A crise financeira internacional já entrou na pauta de discussões dos confinadores. Para Merola, se "a quebradeira for muito longa, irá contaminar países em desenvolvimento", hoje importantes clientes da carne bovina brasileira. Nesse quadro, diz, "o Brasil terá que se esforçar para reconquistar a Europa porque os emergentes vão cair".

Se o bloco europeu voltar a comprar volumes expressivos de carne, os preços do boi gordo e dos animais para engorda continuarão valorizados, avalia o dirigente. No pior dos cenários, em que a Europa permanece restritiva, "o que salvará é o mercado interno", acrescenta.

A jornalista viajou a convite da Interconf