Título: PT deverá ter o menor número de candidaturas próprias em 2006
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2005, Política, p. A5

Dois anos após chegar ao poder, o PT começa a se preparar para as eleições de 2006 sem ter se fortalecido regionalmente. De acordo com análises de integrantes da cúpula do partido, a sigla irá disputar as eleições para os governos estaduais partindo do mesmo ponto em que estava antes de Luiz Inácio Lula da Silva tornar-se presidente: como força secundária. O cenário preocupa muito a direção nacional. "A eleição nacional será associada com a regional. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique foi hábil em costurar acordos", admitiu um membro da Executiva petista. Mais uma vez, será a candidatura presidencial de Lula que irá alavancar os candidatos estaduais do PT, e não o oposto. No Legislativo, as metas são conservadoras: consolidar a posição de maior partido na Câmara, passando de 90 para 120 deputados, e tornar-se o segundo partido no Senado, aumentando a bancada de 14 para 20 senadores. No balanço da cúpula partidária, o PT deve se apresentar com quinze candidaturas próprias, o menor número de sua história. Em apenas cinco, largaria como favorito: São Paulo, Acre, Sergipe, Bahia e Pernambuco. Ainda assim, com condicionantes. Em São Paulo, apesar da preferência da direção petista pelo senador Aloizio Mercadante (SP), visto como o nome mais viável, ninguém arrisca qual seria o resultado de uma prévia, caso a ex-prefeita Marta Suplicy e o deputado João Paulo Cunha se apresentem para concorrer. Em Pernambuco, o apoio do PSB de Miguel Arraes e do ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, é fundamental. A tese de forçar coligações com os partidos da base governista onde os petistas não são competitivos não deve vingar e haverá um rol de pelo menos dez candidatos em relação aos quais o êxito é visto com ceticismo pela cúpula partidária. Em primeiro lugar, porque não está certo que o PMDB- único aliado que tem densidade eleitoral - irá apoiar a reeleição de Lula. Caso a verticalização das coligações não seja derrubada e os pemedebistas lancem candidato próprio, mesmo composições com a ala governista da sigla ficam inviabilizadas. O segundo ponto, de acordo com um integrante da Executiva Nacional do partido, é que a cúpula petista já decidiu que não irá promover intervenções que incendeiem o partido. Em muitos Estados o PMDB e PT divergem frontalmente e a memória da aliança entre o PT e o PDT na eleição do Rio de Janeiro, em 1998, é traumática. A cúpula passou por cima da decisão das bases de lançar Vladimir Palmeira e forçou o apoio a Anthony Garotinho. O resultado foi o PT deixar de disputar a hegemonia no Estado. Publicamente, o presidente da sigla, José Genoino Neto, diz que este debate está adiado. "Está na agenda do partido a necessidade de se fazer alianças e isto será discutido no momento certo. Mas é claro que não vamos fazer nada que prejudique o crescimento do PT", afirmou há alguns dias. Mas já se desistiu dentro do PT da aliança com o PMDB no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. No Paraná, o partido está dividido entre o apoio à reeleição de Roberto Requião (PMDB) ou a candidatura própria de Paulo Bernardo e a direção nacional não pretende se envolver. No Rio, o radical Vladimir Palmeira já obteve sinal verde do próprio presidente da República. Uma aliança para apoiar o senador Sérgio Cabral (PMDB) só ocorrerá se este romper com Garotinho, o que não está no horizonte. No Distrito Federal, onde o governador Joaquim Roriz (PMDB) não pode se reeleger, um acordo é possível, dependendo do nome que prevalecer no grupo governista local. Com o senador Paulo Octávio (PFL) ou o deputado José Roberto Arruda (PFL) há chances de acordo, desde que abandonem o partido. Mas o mais provável é a candidatura própria do PT, com poucas chances de vitória. Nos três Estados em que o partido governa, só no Acre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, é dada como favorita. O comando petista teme a derrota do governador do Piauí, Wellington Dias. Sua eleição em 2002 se deu em aliança com o PMDB, que tem tudo para não se repetir. No Mato Grosso do Sul, o senador Delcídio do Amaral Gomes herda o desgaste de oito anos do governador Zeca do PT. Nos doze Estados em que o partido poderá não ter candidato, a falta de uma candidatura consolidada não significa necessariamente a aposta em coligações sólidas. O principal Estado onde se caminha para uma aliança competitiva é o Ceará. O PT nacional tenta se unir em uma mesma chapa com o grupo do ministro da Integração Nacional , Ciro Gomes, do PPS e o PMDB do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. O irmão de Ciro, Cid, seria o candidato ao governo e Eunício, para o Senado. Entre Ciro e Eunício, já há acordo. Falta combinar com prefeita de Fortaleza, a petista Luizianne Lins. O comando petista imagina contornar a dificuldade oferecendo à prefeita condições para eleição de deputados federais de seu grupo. Em alguns Estados, caminha-se em um fio de navalha: pode-se ir da condição de favorito para a de virtual derrotado. Em Minas Gerais e Goiás, só um candidato proporcionaria a união, o vice-presidente e ministro da Defesa José de Alencar (PL). Em menor grau, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, no cenário goiano. Mas nenhum dos dois sinalizou o desejo de voltar para uma disputa estadual. Segundo um integrante da cúpula petista, Alencar, se quisesse, poderia emparedar o governador tucano Aécio Neves e unir as demais forças do Estado. Há dúvidas se Meirelles conseguiria o mesmo, depois que o pemedebista Iris Rezende ganhou em Goiânia. Caso não encarem a empreitada, em Minas o secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, ou o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias poderão ser candidatos, com chances mínimas. Em Goiás, sem Meirelles, não há nada. A hipótese de aliança branca com o governador Aécio Neves é descartada com veemência pela direção petista. Coligações brancas tendem a acontecer. A direção do PT não conta com os Estados em que há chances de esquemas regionais, formalmente filiados em siglas oposicionistas, para a reeleição de Lula. É o caso , entre outros, de Amazonas, Mato Grosso e Maranhão. Os governadores do PPS Eduardo Braga (AM) e Blairo Maggi (MT) são cortejados, mas não há chance de as seções estaduais do PT concordarem com a reeleição local, o que inviabiliza a coligação. No Maranhão, Roseana Sarney (PFL) deve ser candidata e o PT local não a apoiará. Nestas situações, o PT nacional deve lavar as mãos.