Título: Banco já tem garantidos até agora R$ 33,5 bi
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2008, Finanças, p. C10

O governo Lula está disposto a reforçar a capitalização do BNDES para que os investimentos em curso no país não sejam afetados pela crise financeira internacional. Nestes dias em que se espalhou o pânico em Wall Street, o presidente do banco, Luciano Coutinho, andou por Brasília conversando com a cúpula do governo e recebeu a sinalização de que se for preciso o BNDES pode receber ainda mais apoio para continuar garantindo os recursos necessários para atender a uma demanda potencialmente crescente dada a iliquidez dos mercados lá fora, o racionamento de crédito dos bancos locais e a paralisação das operação no mercado de capitais. O banco está se preparando para o desafio de ser a principal alternativa de crédito de longo prazo para as empresas no país.

Até agora, o BNDES já tem garantido recursos oficiais da ordem de R$ 33,5 bilhões, que deverão alcançar R$ 40 bilhões quando receber o aporte de mais R$ 7 bilhões do Fundo de Infra-estrutura do FGTS, administrado pela Caixa.

Para Coutinho, a mensagem do governo é de que a situação é de tranqüilidade em relação a situação do Brasil em meio a turbulência externa e de que é grande a confiança na capacidade do banco de atender as necessidades das companhias instaladas no país. Isto já vem sendo sendo demonstrado pelo apoio que o Tesouro vem dando ao BNDES este ano, quando atravessou um período de escassez de funding, tendo até mesmo que recorrer a captação no mercado interbancário, depois de suspender um lançamento de debêntures e venda de ações da Light, que iriam contribuir para engordar seu caixa visando fechar o orçamento de R$ 80 bilhões.

No primeiro semestre, o Tesouro emprestou R$ 12,5 bilhões ao banco corrigidos por custo de captação externa. Agora, foi feito mais um aporte de R$ 15 bilhões a juros de mercado cuja liberação está na dependência de aprovação do Congresso. Mas, o banco está confiante e acredita que até o final deste mês começa a contar com parte destes recursos. Também já foram colocados à disposição do BNDES R$ 6 bilhões em títulos CVS, papéis originários do esqueleto do Fundo de Compensações Salariais dos anos 80, do antigo Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Estes títulos podem ser usados pelo banco para pagar dividendos ao Tesouro, seu acionista majoritário.

Mais R$ 7 bilhões estão a caminho dos cofres da instituição de fomento. O banco já começou a negociar com a Caixa a obtenção de R$ 7 bilhões do Fundo de Investimento (FI) de Infra-Estrutura criado com parte do patrimônio do FGTS, cujo dinheiro é aplicado em títulos federais. Este dinheiro é o que mais atrai o BNDES porque a instituição tem hoje uma carteira de financiamento de R$ 49,7 bilhões de projetos em infra-estrutura. Este portfólio pode aumentar com a entrada de pedido de crédito para as usinas do Madeira.

O FI de Infra-Estrutura, administrado pela Caixa, tem recursos totais de R$ 17 bilhões. O banco pleiteou R$ 10 bilhões, mas este pleito foi refugado para os R$ 7 bilhões.

As conversas entre Coutinho e o Planalto visam principalmente garantir a demanda de recursos para o ano que vem e 2010. O presidente do banco está trabalhando para garantir atendimento a uma demanda atípica. 2009 será um ano de forte procura por crédito no banco para as empresas tocarem os projetos em curso. O presidente do BNDES prevê que a instituição de fomento vá adentrar o novo ano com aprovações de projetos somando inacreditáveis R$ 120 bilhões. Hoje, o "gap" entre aprovações e desembolsos está situado na faixa de R$ 30 bilhões. O cenário de Coutinho é de uma procura muito grande por financiamento que está se confirmando neste segundo semestre. Até agosto, os desembolsos do banco no período de 12 meses já superaram os R$ 80 bilhões. Este ritmo vai se acentuar em 2009 e, provavelmente, em 2010. "Esta projeção coloca um problema real de funding para os próximos dois anos", disse Coutinho ao Valor em recente entrevista. Ele admitiu que o orçamento de projetos para o ano que vem pode ser de R$ 90 bilhões ante R$ 80 bilhões este ano. Tem gente apostando em mais.