Título: Severino dá sinais de que pode apoiar FHC
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2005, Política, p. A6
O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PE), e a cúpula do seu partido, o PP, deram ontem sinais de que podem abandonar o apoio à possível reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Severino disse inclusive que vê "com bons olhos" uma candidatura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos principais nomes do oposicionista PSDB. Reunidos em um encontro partidário em Rio Verde, interior de Goiás, Severino e as demais lideranças pepistas adotaram posições dúbias, por vezes contraditórias, sobre como o partido, hoje governista, se portará em 2006 - se apoiará o PT, a oposição, ou lançará candidatura própria. "Tenho a característica de assumir a responsabilidade pelo que falo. Disse na reunião do PSDB que via com bons olhos a candidatura de FHC, mas a política é dinâmica", afirmou Severino. "Hoje estamos prontos a tomar uma posição, mas não sabemos o desenrolar da coisa". O deputado tinha até uma semana atrás quase nenhuma voz no seu partido, mas ascendeu de forma surpreendente Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). A reunião com o PSDB a que ele se refere foi na madrugada de terça-feira, quando ele conseguiu o apoio dos tucanos. Ainda sobre o PP continuar com Lula em 2006: "Depende do presidente da República. O tratamento que ele der ao PP é o tratamento que ele vai receber. (...) Não vou dizer que o meu candidato é FHC ou Lula. O meu candidato é aquele que melhor atender aos interesses da nação." O tratamento que ele diz desejar do Planalto significa um ou dois ministérios, e rápido. "Se eles querem esperar, eu prefiro que ele [Lula] faça rápido". Sobre qual pasta, brincou: "Prefiro a da Fazenda, que é para gente tomar logo conta de tudo". Em outro momento do evento em Rio Verde, Severino lembrou que o partido tem tudo para apoiar a reeleição do petista caso ele continue "dando ao país a dimensão que ele vem dando". Outros sinais divergentes foram dados pelas lideranças, que faziam discursos grandiloqüentes hoje. Pedro Corrêa (PE), presidente da legenda, lançou em um mesmo discurso Severino e o governador Marconi Perillo (PSDB-GO) à Presidência da República. Severino Cavalcanti também respondeu de forma agressiva às críticas de que o corporativismo na Câmara levou a melhor com sua vitória. Ele atacou duramente o presidente nacional do PT, José Genoino, a quem chamou de "incapaz", "trapalhão", "desordeiro" e que só falaria "asneiras". "Eu fui eleito presidente da Câmara graças à incapacidade do Genoino. Então, não quero muito diálogo com ele senão eu vou perder, tomar medidas erradas, porque o Genoino só fala asneiras", disse Severino em Rio Verde (GO). As críticas do deputado foram feitas em resposta à pergunta sobre o que ele achava de entrevistas em que Genoino teria dito que o resultado das eleições na Câmara representam um fortalecimento do corporativismo na instituição e que o PT combaterá projetos de aumento de benefícios a deputados. "Eu não preciso do Genoino para nada, ele é reconhecido como um grande trapalhão", continuou Severino. "Se o presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] continuar dando força a ele [Genoino], vamos ter derrotas fragorosas, porque o Genoino só prega a desordem". Em entrevista ao Valor, o presidente nacional do PT, reconheceu seus erros naquela que disse ter sido sua "pior derrota" depois da guerrilha do Araguaia. Em artigo divulgado na semana passada no site do PT, Genoino disse que o resultado na Câmara dos Deputados "provocará o aumento do custo de funcionamento das instituições políticas e uma possível redução de sua eficácia". O PT se declarou contra uma das principais bandeiras de Severino na campanha à presidência da Casa, a de aumentar o salário dos deputados de R$ 12.847 para R$ 21.500. Após eleito, o deputado afirmou que cumprirá a promessa. Cerca de 250 pessoas se espremeram no aeroporto e mais de mil lotaram o "Centro de Tradições Gaúchas", local do encontro sobre o qual não se alimentavam grandes expectativas há até uma semana. Severino Cavalcanti foi aclamado hoje como o grande líder do PP e o ato transformado em "festa nacional do partido". O PP havia marcado um encontro em Rio Verde para discutir as eleições de 2006. "O povo de João Alfredo (PE) vai me matar ao saber que minha primeira viagem como presidente foi para cá", brincou, ao citar sua cidade natal. O bate-boca entre Severino e Genoino dificulta a estratégia de aproximação que vinha sendo traçada pelo governo com o novo presidente da Câmara. (Colaborou Maria Lúcia Delgado)