Título: Argentinos fracassam na tentativa de impor barreiras a calçado brasileiro
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2005, Brasil, p. A1

Os empresários do setor de calçados da Argentina tiveram nesta semana frustrada sua tentativa de impor barreiras ao ingresso de produtos brasileiros ao seu país. Em reunião realizada anteontem em Buenos Aires, foi rejeitado o pedido de imposição de um regime de cotas para limitar os embarques de sapatos brasileiros para a Argentina. Do encontro participaram dirigentes da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) e da câmara que reúne os produtores argentinos. Os governos foram representados pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Márcio Fortes, e pelo subsecretário de Política e Gestão Comercial argentino, Guillermo Feldman. Os produtores argentinos queixaram-se de que o Brasil violou um suposto acordo de cavalheiros acertado em meados do ano passado, segundo o qual o envio de calçados brasileiros não ultrapassaria 13 milhões de pares. A posição da Abicalçados é que não houve nenhum compromisso formal, apenas uma estimativa de que o volume de exportações para a Argentina seria daquela ordem. No ano passado, as exportações de calçados à Argentina atingiram 15,3 milhões de pares, mas o próprio governo acha que seus empresários não têm motivos para protestar. Isso porque, do total importado, 2,4 milhões de pares foram comprados pelos próprios produtores argentinos, que não conseguem atender à demanda local, particularmente de calçado esportivo. Os números apresentados na reunião frustraram a intenção dos empresários argentinos de tentar impor para este ano uma cota inferior a 10 milhões de pares. Além da forte importação dos fabricantes locais, os dados da alfândega mostram uma queda de 24% nas exportações, incluindo o mês de janeiro e o início de fevereiro na comparação com o mesmo período de 2004. "Qualquer quantidade que supere os 10 milhões por ano já causa dano à indústria de calçado argentina", insistiu Horacio Moschetto, secretário da Câmara Argentina da Indústria do Calçado, que disse haver ameaça de que as importações de calcado do Brasil causem desemprego na Argentina. Moschetto também afirmou esperar que o novo secretário de Indústria argentino, Miguel Peirano, seja mais sensível às reivindicações do setor. Peirano, que trabalhou como assessor econômico da câmara de produtores de calçado, deve assumir o cargo em março. Na reunião de segunda-feira ficou acertado que o Indec, órgão de estatísticas ligado ao Ministério da Economia, fará um levantamento para estimar o tamanho do mercado argentino de calçados. O estudo deve ser concluído entre março e abril. Depois de analisá-lo, os empresários devem voltar a se reunir para novamente avaliar a situação.