Título: G-7 fracassa na tentativa de reativar Rodada Doha
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2008, Brasil, p. A4

O G-7, grupo formado pelo Brasil, Estados Unidos, União Européia, China, Índia, Japão e Austrália, abandonou no sábado uma tentativa de reanimar a Rodada Doha, partindo sem perspectiva de retomar a iniciativa em futuro próximo. Jefferson Dias/Valor

Roberto Azevedo: "Brasil não desistirá de tentar alcançar um acordo"

O novo fiasco foi causado pelo persistente confronto entre os Estados Unidos e a Índia sobre um mecanismo de proteção especial pelo qual a China, a Índia e outros países em desenvolvimento com agriculturas ditas frágeis poderiam frear um súbito aumento de importações agrícolas.

O embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, qualificou de "lamentável que se perca essa oportunidade, porque não estávamos distante". Segundo ele, "não foi por dificuldade técnica, mas por uma questão de disposição política". O mesmo tema já tinha causado o dramático fracasso da reunião ministerial de julho que deveria concluir sete anos de negociação para liberalizar o comércio internacional.

Diante do que aconteceu em Genebra, uma proposta do ministro de Comércio da Austrália, Simon Crean, de fazer uma reunião de ministros do G-7 em Londres, nos dias 2 e 3 de outubro, pode naufragar de vez.

Enquanto a crise financeira internacional era o alvo de todas as atenções, representantes do G-7 retomaram negociação na quarta-feira sem prazo determinado, até que pudessem superar divergências e chegar a pelo menos um esboço de acordo agrícola.

A tentativa começou e terminar em torno de salvaguarda problemática prevendo que o importador pode impor tarifa adicional acima do que foi estabelecido na Rodada Uruguai - ou seja, um novo acordo agrícola internacional, para liberalizar o comércio, permitiria barreira tarifária ainda maior do que na negociação anterior.

A verdade, segundo um negociador, é que o G-7 veio a Genebra com estrutura bem diferente do que a que tinha sido rejeitada em julho pelo ministros. Foram novas discussões e os negociadores tiveram que arriscar. Uma primeira proposta levada aos ministros, nas capitais, recebeu resposta negativa. Os negociadores tomaram outro caminho, mas quando chegou no sábado pela manhã concluíram que não havia realmente como fazer acordo, ainda diante da divergência entre Washington e Nova Déli.

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, voltará a telefonar a ministros para ver o que é ainda possível salvar este ano e evitar que a entidade mergulhe num forte marasmo no médio prazo. Os indianos dizem que ainda vão fazer simulações sobre o que foi discutido em Genebra.

Mas o ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, avisou: "Os EUA não serão proativos nos próximos meses, em período eleitoral. Podemos até negociar, mas se chegar a entendimento é outra coisa."

Já o Brasil avisou que insistirá: "Os resultado da rodada podem não vir agora, mas o Brasil não vai desistir de alcançar acordo no prazo mais próximo possível que amplie os mercados e melhore as condições de competição de nossos produtos", afirmou o embaixador Azevedo.

Quanto à principal negociadora comercial americana, Susan Schwab, que logo começará a arrumar a mala para partir do posto, continua a acusar emergentes por dificuldades na rodada.