Título: Empresas investem só 0,65% do faturamento em inovação
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Fonte: Valor Econômico, 22/09/2008, Especial, p. A14
Se na Noruega, o investimento da indústria petrolífera em inovação é significativo, no Brasil ainda é muito baixo. Os gastos com pesquisa e desenvolvimento dos fornecedores de equipamentos e serviços da indústria de petróleo e gás se limitam, em média, a 0,65% do seu faturamento. Só 1/3 das empresas exercem esforço inovativo.
"Essa constatação sugere que os investimentos em atividades de P&D tecnológico necessitam ser substancialmente incrementados para que o ritmo de inovação na indústria de petróleo e gás brasileira acompanhe o que ocorre em outros pólos fornecedores. Caso isso não ocorra, o risco de perda de competitividade dessa indústria será crescente", dizem Leão Rocha e Adilson de Oliveira.
As articulações entre os fornecedores e a infra-estrutura científica e tecnológica nacional são tênues, problema que atinge praticamente todos os setores da economia brasileira. Esse distanciamento sobrecarrega a Petrobras, que é obrigada a manter equipes de supervisão da qualidade dos equipamentos, "inclusive com inspeções residentes, para garantir sua competitividade econômica".
João Carlos Ferraz, do BNDES, informa que o banco tem uma estratégia para enfrentar as deficiências encontradas no estudo do Prominp. O plano é atacar os pontos críticos da engenharia nacional no setor de petróleo e gás - mão-de-obra, construção de estaleiros, desenvolvimento científico e tecnológico fora da Petrobras e EPCistas (as empresas de engenharia e montagem, que funcionam como integradoras da cadeia produtiva). "Se a gente conseguir deslanchar investimentos nesses pontos, eles vão puxar os investimentos dos outros setores", diz Ferraz.
Na sua opinião, o Brasil tem todas as condições de formar mão-de-obra, desenvolver a cadeia produtiva, ter novas empresas e aumentar a competitividade. O dilema é conciliar conteúdo local com o ritmo de crescimento da exploração de petróleo. "Quanto mais acelerado for o ritmo, menor a capacidade de fortalecer a cadeia produtiva", diz. "O desafio à frente não é só de conteúdo, de produzir localmente, mas de produzir localmente com competência."
Ferraz lembra que, apenas no plano de investimento da Petrobras para o período 2008-2012, portanto, antes do pré-sal, há previsão de compra de 40 navios-sonda, sendo que já 12 já foram encomendados. "Quanto tempo leva para reverter 25 anos de ausência de investimento?", indaga. "Há muito pouco tempo o país se debruça sobre o longo prazo." (CR)