Título: Ex-diretor do BC prevê crédito mais escasso e commodities em baixa
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2008, Finanças, p. C6

Menos crédito global disponível, menor demanda pelas exportações e preços de commodities mais baixos. Esses são os três principais aspectos com os quais o Brasil deve ter de lidar nos próximos meses em função da crise financeira dos EUA, na visão do economista Rodrigo Azevedo, ex-diretor do Banco Central e hoje sócio da gestora de recursos JGP. "Concordo com o que vem sendo dito pelo Banco Central de que o Brasil está mais resistente, mas não imune", diz Azevedo.

Para ele, os primeiros dados relativos ao pacote de medidas anunciadas nos EUA são positivos - apesar de ainda haver algumas preocupações com a maneira de avaliar os ativos - e trazem uma boa chance de o movimento de desalavancagem ocorrer de forma mais ordenada. Ele lembra, porém, que o processo vai acontecer e deve trazer desaceleração a todas as economias. Para o Brasil, a projeção de Azevedo é que isso ocorra em menor grau, com o país crescendo a uma taxa em torno de 5,3% neste ano, mas já num nível mais próximo a 3,8% em 2009. Isso porque a demanda doméstica tem impulsionado fortemente a economia local.

Mas é também por conta desse último aspecto que uma das principais preocupações do economista da JGP para o Brasil neste momento de ajuste é com relação às pressões inflacionárias, uma vez que, na visão dele, a direção do movimento é a de um real mais fraco, embora não se saiba ainda em que nível.

"É um elemento importante para se ter em mente, em particular pelo potencial inflacionário num momento em que há uma demanda crescendo muito a frente da oferta como é o caso do Brasil. O grau de ociosidade na utilização dos recursos é muito baixa e isso amplia o espaço para que qualquer tipo de choque oriundo do câmbio seja mais inflacionário."

Com relação à redução do crédito global, o economista acredita que as empresas locais tem usado mais financiamentos internos, mas diz que deve haver um "efeito-demonstração", ou seja, os bancos locais devem ficar mais cautelosos nas concessões de crédito em função da crise global. Isso, somado a política monetária pode, na visão dele, provocar uma desaceleração mais significativa na economia brasileira.

Ele lembra ainda que de forma relativa o Brasil poderá crescer mais que os outros países "Isso pode gerar um déficit em conta corrente maior, justo num momento em que será mais difícil financiá-lo", observa.

Com relação às exportações, Azevedo prevê queda na demanda em função do menor crescimento das economias dos países, mas avalia que o impacto na atividade não será tão grande como nos países que possuem economias muito abertas, dado que as exportações brasileiras ainda são relativamente baixas como percentual do PIB.

Para o economista, o mundo deve começar esta semana com uma perspectiva bem melhor do que a que havia no começo da semana passada. "O momento foi muito grave, mas houve uma sensibilidade do Fed, do Tesouro e do Congresso americano de que era preciso restabelecer a confiança, mas também evitar o risco moral", disse Azevedo.