Título: O realismo político e o candidato do PFL
Autor: Rosângela Bittar
Fonte: Valor Econômico, 23/02/2005, Política, p. A6
Longe de ser ser um sonho irrealizável, um capricho político de seus dirigentes ou um instrumento de negociação e barganha com parceiros melhor situados mais adiante, a indicação do prefeito Cesar Maia como pré-candidato do PFL a presidente da República parece fazer parte de uma estratégia muito bem construída, sem concessões à aventura, pelo senador Jorge Bornhausen. As respostas às questões que dominam a curiosidade mais imediata do eleitorado surgem naturalmente em conversa com o senador, presidente licenciado do partido: a candidatura é para valer. Será feita uma avaliação sobre ela em julho; e o objetivo primeiro do PFL é levar a disputa de 2006 a um segundo turno, meta que hoje parece inalcançável. "Está traçado um rumo", diz Bornhausen. Para entender esta candidatura e levá-la em consideração, não se deve antecipar dúvidas e situações que, ou não vão ocorrer, ou só surgirão em outra etapa do processo eleitoral. Por exemplo, é inócuo discutir agora se Cesar Maia vai ou não vai interromper seu mandato na Prefeitura do Rio para disputar a Presidência. Ou se, em 2006, o PFL vai ou não vai manter-se, na sucessão presidencial, ao lado do PSDB, seu aliado nas disputas mais vistosas. Jorge Bornhausen mostra as razões pelas quais o partido fez as opções que estão em curso. Desde que se estabeleceu, na Constituição, a possibilidade de reeleição, o detentor do Poder Executivo é sempre candidato a novo mandato. No caso específico de Lula, diz o presidente licenciado do PFL, "temos isto de forma muito acelerada". Ou seja, quer dizer o senador, Lula está permanentemente em campanha. "Lula não despacha com ministros e se dedica a fazer, quase todo dia, um evento onde possa, através da mídia e devidamente orientado, fazer propaganda política". Segundo esta concepção, Lula teria, com esta conduta, conseguido descolar-se das deficiências administrativas do governo e das cobranças de resultados. Lula não estaria, em última análise, governando. Um parênteses: como a confirmar estas reflexões, ontem, em Campo Grande, o presidente fez discursos em que falou de temas tão candentes quanto díspares, da morte de sindicalistas às escolas técnicas, do programa luz para todos às bolsas de estudo do ensino superior, do preconceito à integração sul-americana, culminando com a declaração, a propósito do mandato, de que o governo só começa mesmo a partir do terceiro ano de gestão. Para Bornhausen, a opção do presidente pela propaganda política resultou em que, nos 750 dias de governo, Lula já teria feito 600 pronunciamentos à Nação. "Nas solenidades mais simples, as mais sem expressão, há o discurso para ir ao rádio, à televisão, sempre tem o caco que ele introduz no discurso escrito para ir para os telejornais".
"Lula só se dedica à propaganda política"
A conclusão de Bornhausen: "Se as oposições ficarem aguardando 2006, pela inércia Lula tem todas as condições de ganhar no primeiro turno", avalia Bornhausen. A saída seria fazer campanha ao mesmo tempo em que o presidente Lula faz a sua, da reeleição. Assim o PFL chegou à candidatura própria, e com o resultado eleitoral de 2004, ao nome de Cesar Maia. Bornhausen conta haver procurado o PSDB para dizer que a candidatura Maia não era contra os tucanos, e achava que todos os partidos de oposição deveriam apresentar seus candidatos para evitar que a candidatura Lula seguisse privilegiada até o fim. "Estamos trabalhando para conseguir que a candidatura de Cesar Maia se fortaleça e venha a ficar como definitiva", diz. Esta é uma estratégia que vai se desenrolar ao longo de 2005 e, como o PSDB está demorando a se articular em torno de uma escolha, Bornhausen considera que o campo está livre. "Nós temos condições de avançar utilizando nosso espaço de rádio, televisão, viagens e palestras. Estamos convencidos de que Cesar Maia, sendo um administrador capaz e devidamente testado, tendo sido eleito três vezes pelo Rio de Janeiro, que é uma cidade difícil e até oposicionista por natureza, tem condições de ver sua candidatura prosperar. E nós estamos apostando nisso". O fato de Cesar Maia ter sua base eleitoral no Rio, onde também milita Anthony Garotinho, não se constitui, nesta análise, obstáculo. "Acho que a candidatura Garotinho, tanto quanto a da Heloísa Helena, ajudam a formação do segundo turno". Bornhausen está certo, também, que o PSDB vai lançar um candidato, independentemente da situação do candidato do PFL. "Se o nosso candidato estiver melhor que o do PSDB, eles não vão nos apoiar, mas não estamos fazendo competição. Traçado o rumo, vamos fazer uma primeira etapa de avaliações no mês de julho, ver se a candidatura teve o crescimento que nós imaginávamos". As medições serão feitas com base em pesquisas e, desde logo, o presidente licenciado do PFL elege, como mais adequada, a relação de candidatos proposta em uma pesquisa do Ibope, feita para a Confederação Nacional da Indústria, no fim do ano passado. Nesta, a formulação apresentada ao eleitor foi Lula (PT), que teve 46%, Alckmin (PSDB), que ficou com 15%, em terceiro Garotinho (PMDB), com 10%, em seguida Cesar Maia (PFL), com 5%, e Heloísa Helena (P-Sol), com 2%. "Esta é a lista básica, a mais provável, sobre ela vamos fazer nossas avaliações a partir de julho". À pergunta sobre a diferença entre as candidaturas pefelistas de Cesar Maia, agora, e Roseana Sarney, em 2002, também uma construção do partido, Bornhausen parece preferir a de hoje: Roseana representava a mulher, era uma novidade absoluta dentro de um processo em que a ascensão da mulher na sociedade brasileira ajudou muito. O candidato agora tem mais conteúdo, mais resultado administrativo palpável, dirige uma cidade-Estado, é bem melhor testado tanto do ponto de vista administrativo como político".