Título: Desembolsos estão garantidos, diz Coutinho
Autor: Assis, Jaime Soares de
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/09/2008, Nacional, p. A5
São Paulo, 24 de Setembro de 2008 - A crise do sistema financeiro internacional começa a afetar as renovações de linhas de financiamento e as empresas brasileiras devem se preparar para atravessar um período de crédito seletivo e taxas mais altas na captação de recursos externos. Apesar do cenário turbulento, que deverá ser digerido pela economia mundial nos próximos 2 a 3 anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) passa a ocupar uma posição central na sustentação do crescimento econômico. Da acordo com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, no período de 2008 a 2011 foram mapeados R$ 1,5 trilhão em investimentos nos setores industriais, de infra-estrutura, construção residencial e agropecuária. "O banco está preparado. Estamos líquidos e tranqüilos e vamos poder suprir parte das necessidades e atender os investimentos em curso", afirmou Coutinho durante a 20 Reunião do Fórum Nacional da Indústria organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O BNDES, avalia, tem folga e pode atingir os R$ 85 bilhões de desembolsos previstos para 2008. A instituição tem recursos para iniciar o ano de 2009 "com tranquilidade". A preocupação do banco é a busca de recursos para cobrir a demanda no segundo semestre no próximo ano. Coutinho não adiantou se haverá uma parcela maior de aporte do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). "Os recursos do FAT têm uma certa limitação e temos outras fontes para suprir o ano que vem Estamos líquidos. Acabamos de receber o empréstimo de R$ 15 bilhões do Tesouro Nacional e os investimentos continuarão fluindo", afirmou. Os agentes financeiros internacionais já começaram a cobrar mais pelos recursos, segundo José Velloso Dias Cardoso, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Indústrias que tomavam recursos externos a taxas entre 5% e 5,5% estão captando a 8% e 8,5% ao ano. "Quem precisar de dinheiro vai pagar um pouco mais caro", diz Velloso que considera a crise internacional um problema localizado. "O Brasil está fora da crise", afirma Velloso. Na avaliação do vice-presidente da Abimaq, existem fontes de financiamento no Oriente Médio, Emirados Árabes e outros países produtores de petróleo que tem seus recursos aplicados em setores de baixo risco. Este capital poderá ser direcionado ao País quando o mercado internacional observar os alicerces da economia brasileira apoiados nas áreas de commodities minerais e no agronegócio. O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, acredita que "o papel do BNDES passa a ser mais importante neste momento de crise do sistema financeiro internacional". Segundo Monteiro Neto, o banco é essencial para compor o tripé de sustentação dos projetos industriais que dependem do reinvestimento de lucro,. linhas internas de baixo custo e recursos externos. "Com a crise, vai haver uma maior contração dos recursos externos e o banco terá mais importância", declara. Para Monteiro Neto, a economia brasileira mantém um volume de crédito em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) de 35%, considerado relativamente baixo se comparado a outros países onde estes níveis chegam a 70% e a mais de 100%. O presidente da CNI lembra, que as turbulências externas alcançam "empresas que se internacionalizaram e têm mais acesso a financiamento externo". Estas companhias "podem ter maior grau de dificuldade no momento de renovar as linhas de crédito, com esta crise de liquidez", afirma. As limitações das linhas de financiamento podem provocar uma retração na expansão econômica. Coutinho, do BNDES, prevê um crescimento ainda forte em 2009. "Estamos crescendo, na margem, a 6%. Podemos desacelerar um pouco mas tenho confiança de que poderemos crescer acima de 4% no ano que vem", declara. Para a CNI, o Brasil precisa elevar a poupança interna e melhorar a qualidade do investimento público. "O setor público poupa pouco e o aumento da arrecadação no País tem sido destinado a financiar o gasto corrente que cresce de maneira imoderada no Brasil", afirmou. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Jaime Soares de Assis)