Título: O alívio no crédito do BC pode manter investimentos
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/09/2008, Editoriais, p. A2
26 de Setembro de 2008 - cape 1,A decisão do Banco Central de liberar R$ 13,2 bilhões para o sistema financeiro deve aliviar o caixa das instituições financeiras que enfrentam algumas dificuldades para captar recursos no mercado. A rigor, para conter a contaminação do crédito pela crise, o BC anunciou duas medidas para "preservar o sistema financeiro nacional dos efeitos da restrição de liquidez que vem sendo observada no sistema financeiro internacional". A primeira terá efeito mais imediato e deve liberar R$ 5,2 bilhões que deveriam ser transferidos ao BC, obedecendo às regras do compulsório adicional. Convém lembrar que os bancos devem manter no BC 45% dos depósitos à vista, 15% dos depósitos a prazo e 10% da poupança. A segunda medida visou facilitar operações de bancos pequenos e médios. Essas instituições devem recolher 8% extras sobre os depósitos em contas correntes, em qualquer modalidade. Porém, esses bancos podem descontar R$ 100 milhões desse recolhimento extra. O BC agiu nesse ponto, aumentando esse desconto do compulsório para R$ 300 milhões, o que na prática acabará funcionando como isenção do repasse adicional e dando folga de liquidez considerável para as instituições menores. O BC também adiou o cronograma para recolhimento do compulsório dos depósitos das empresas de leasing, empurrando para 2009 o repasse de R$ 8 bilhões dessa fonte, recurso que continuará nos bancos. Essas medidas aliviam o aperto no crédito que, de fato, já chegou ao Brasil. É indiscutível que o País está mais bem preparado para choques, o que não significa completo isolamento e proteção da crise internacional. Basta observar que, apesar de todas as promessas oficiais, até os financiamentos do BNDES estão mais caros. É exatamente por esse motivo que a disposição do BC de injetar recursos chega no momento certo, porque muitas empresas manifestaram disposição de manter investimentos para modernizar o parque produtivo e adotar novas tecnologias. Nesse clima, o dinheiro destinado à produção ficou naturalmente mais caro, quase sempre superior à Taxa de Juros de Longo Prazo cobrada pelo BNDES. A realidade do crédito para as empresas é bem complexa. O presidente do Banco do Brasil, Antonio Lima Neto, admitiu que os bancos enfrentam dificuldades crescentes para obter crédito externo com a crise internacional, embora tenha garantido que o banco continuará a renovar as linhas de financiamento de comércio exterior. Lima Neto, no entanto, foi bem objetivo ao afirmar que nessas linhas "existe estreitamento de prazo e de cotação de lotes menores do que vínhamos cotando, mas está sob controle". O diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Roberto Gianetti da Fonseca, definiu como "conta-gotas" o fato de que a cada dia mais empresas enfrentam problemas para renovar as operações de Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC) pela forte crise de liquidez que impede bancos estrangeiros de emprestar para instituições nacionais repassarem às empresas exportadoras. Sem esse recurso, usado como capital de giro, não há como financiar a produção das novas exportações. Nesse processo, a aprovação pelo Congresso dos EUA de um pacote de ajuda, apesar de bem recebido pelo mercado, não terá poder de reverter, instantaneamente, a crise de liquidez já instalada. É exatamente nesse conjunto de preocupações com a oferta de crédito que a prudência da atitude do BC deve ser notada. A mudança das regras do banco é sinal tanto de que a crise passou a ser preocupação oficial, como de que a maior autoridade financeira do País é a mais sintonizada e atenta ao panorama global na defesa da economia nacional. Esse aspecto é essencial, principalmente no momento em que outras autoridades da economia brasileira teimam em negar os preocupantes efeitos da crise internacional. A atuação responsável do BC, sem qualquer perda de austeridade e firmeza, deveria ter seguidores no plano federal. Vale lembrar, para citar o benefício dessas medidas de alívio de crédito, o apoio que elas sinalizam sobre a vontade de investir do empresário. Esse é o ponto que mais merece proteção. Por exemplo, quando o BC adia compulsório sobre leasing, na verdade a autoridade está manifestando atenção sobre movimentos de conjuntura da economia real, como o da contenção da velocidade de crescimento na venda de veículos. Atento, o BC manteve o leasing, o que preservará vendas, coincidindo com o momento em que as montadoras anunciaram vultosos investimentos no Brasil. Estado indutor funciona desse modo, incentivando climas favoráveis para investimentos, e não prejudicando-os. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 2)