Título: Confiança é retomada e liquidez deve melhorar
Autor: Góes, Ana Cristina
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/09/2008, Finanças, p. B2
São Paulo, 26 de Setembro de 2008 - Os impactos imediatos do fechamento de um acordo entre o governo e o Congresso norte-americano sobre o pacote de socorro ao sistema financeiro são o restabelecimento da confiança nos mercados e, em conseqüência, a melhora da liquidez, acreditam os analistas. Desde a semana passada, quando dois grandes bancos de investimentos dos Estados Unidos, o Lehman Brothers e o Merrill Lynch, e a seguradora AIG sucumbiram por causa da crise do subprime, a aversão ao risco se generalizou e o dinheiro praticamente sumiu de circulação no mercado internacional. "Os bancos pararam de emprestar e agora isso deverá se normalizar. A liquidez, contudo, não será como nos últimos tempos porque ainda vamos ver muitos prejuízos nos balanços dos bancos, mas pelo menos esses ativos (que serão adquiridos pelo governo dos Estados Unidos) vão deixar de contaminá-los", diz Cristiano Souza, economista do Banco Real. Ele afirma que, apesar do risco moral, não havia escolha ao Estados Unidos a não ser a ajuda. "Uma crise sistêmica seria muito pior", observa A opinião é compartilhada por Roberto Luís Troster, sócio e economista da Integral-Trust. "Poderia ter um efeito dominó, contaminando toda a economia." Souza diz que não é possível medir ainda o tamanho real das perdas nem seus impactos na economia, mas acredita em linhas externas mais curtas para financiamento de exportações brasileiras e formação de funding dos bancos. Contudo, o economista não prevê grande impacto na concessão de crédito no Brasil, que já vinha desacelerando pela própria dinâmica desse mercado. No entento, o crédito demora para se recuperar na Europa e Estados Unidos e nem mesmo o socorro vai colocar essas economias na rota do crescimento, acredita. Souza estima desaceleração até meados de 2010, baseado na piora dos níveis de emprego e da perda de dinheiro das famílias com os mercados imobiliário e acionário, o que poderá ainda deteriorar mais os índices de inadimplência no mercado imobiliário, e levar o sistema financeiro a mais prejuízos. Celso Grisi, professor de comércio exterior da Fundação Instituto de Administração (FIA), lista também que, com o socorro financeiro, os Estados Unidos vão aumentar para mais de US$ 11,3 trilhões a dívida interna e que devem promover cortes nos gastos públicos para fechar as contas. "Devem cortar programas sociais e investimentos." Grisi acredita que, neste contexto, talvez os Estados Unidos possam reduzir os subsídios agrícolas, o que poderá favorecer as exportações brasileiras ao país. "A Europa terá de fazer um esforço similar também (de diminuição de incentivo agrícola)", o que abrirá novas oportunidades ao Brasil naquele mercado. O professor prevê crescimento zero para as economias dos Estados Unidos e Europa em 2009 e "modesto, de 3,5%", para o Brasil. (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Iolanda Nascimento)
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