Título: Construtora ressalta ganhos com antecipação da obra
Autor: Scrivano, Roberta
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/09/2008, Internacional, p. A14
São Paulo, 25 de Setembro de 2008 - A Odebrecht reforçou ontem, por meio de nota, que os reparos solicitados pelo governo do Equador na usina hidrelétrica San Francisco, erguida pela construtora brasileira em parceria com as européias Alstom e VA Tech, estavam sendo feitos de acordo com o cronograma prometido, que tinha a conclusão marcada para próximo dia 4 de outubro. O "prazo estava sendo cumprido até a intervenção do governo equatoriano", informa o documento da Odebrecht. Além disso, a construtora ressalta que "os prejuízos provocados pelos três meses de paralisação" da hidrelétrica, que representa 12% da matriz energética daquele país, "são inferiores aos ganhos obtidos (pelo governo) pelos nove meses de antecipação do prazo de construção". De acordo com a Odebrecht, a antecipação da entrada em operação da usina gerou uma receita adicional de mais de US$ 43 milhões ao governo equatoriano. A nota da companhia brasileira, que atua no Equador há 21 anos, afirma que o consórcio não recebeu nenhum tipo de bônus do Equador por conta da antecipação da obra. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (Cbie), considera estranha a atitude do governo do Equador. "Aparentemente há alguma coisa por trás que nós ainda não conhecemos", comenta o especialista. O ex-embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, é enfático e classifica a atitude do governo equatoriano como "hostil, ilegal e unilateral". "Isso é um absurdo. A companhia brasileira estava em negociação e ia cumprir os prazos. A medida do presidente Rafael Correa é arbitrária", salienta. Barbosa diz que o governo equatoriano excedeu os limites, principalmente porque a "Odebrecht estava jogando dentro das regras". "Isso está ocorrendo porque o Brasil não reage. Há algumas semanas vimos um corte no fornecimento de gás da Bolívia e Brasil não reagiu, além das seguidas nacionalizações ocorridas em território boliviano", afirma o ex-embaixador, que sugere: "O governo brasileiro precisa negociar com urgência acordos que garantam esses investimentos em outros países". Vulcão em erupção Sobre os reparos na obra, a Odebrecht esclarece ainda que não houve apuração das causas dos danos na usina. "Importante registrar ocorrências de erupção do vulcão Tungurahua, situado a 20 quilômetros da central, o que gerou, na água do rio Pastaza, aumento significativo de sedimentos, não considerados no projeto de engenharia de responsabilidade do Governo Equatoriano", diz o comunicado da construtora. Barbosa lembra que, além da usina San Francisco, a Odebrecht dava andamento no Equador a outros quatro ativos: duas hidrelétricas, um aeroporto e um sistema de irrigação. "Porque estes contratos também foram cancelados?", questiona. A Odebrecht informa que todos os empreendimentos "envolvem um total de contratos da ordem de US$ 650 milhões e atingem 3.800 pessoas trabalhando na empresa, das quais 36 são brasileiros" Há três meses, a Odebrecht estava negociando com o governo do Equador um "Acordo de Compromissos, que, segundo a empresa, vai "muito além de suas responsabilidades contratuais". "Nessas negociações, na busca do retorno à normalidade, e considerando os 21 anos de atuação naquele País, resolvemos aceitar algumas condições" que não estavam nos contratos. Entre elas estão a extensão das garantias dos equipamentos, garantia de reparos, além do custos dos reparos no valor aproximado de US$ 25 milhões. Na ocasião, os parceiros da Odebrecht no consórcio, a Alstom e a VA Tech, não assinaram o contrato "por decisão empresarial soberana e legítima, face ao aumento significativo dos limites e riscos contratuais e a insegurança jurídica", diz o comunicado. Procurada, a Alstom disse que "não assinou o contrato porque o documento não envolvia atividades de geração e sim de construção civil". (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 14)(Roberta Scrivano)