Título: Países do Bric caminham na contramão da crise dos ricos
Autor: Rosa, Leda
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2008, Nacional, p. A5
São Paulo, 29 de Setembro de 2008 - O furacão da crise financeira global não vai ser tão devastador para o BRIC - grupo formado pelas economias emergentes de Brasil, Rússia, Índia e China. Analistas brasileiros e americanos apostam que os quatro vão continuar crescendo, na contramão da recessão mundial. Neste cenário, o Brasil lidera, ao lado da China, as previsões otimistas, lastreado por um conjunto de fatores estruturais, no qual o sistema bancário tem destaque. À Rússia coube a liderança no ranking de vulnerabilidade. "A crise mostra que o sistema financeiro é vital e deveria ser balizado pelo Acordo de Basiléia. Entre os Bric, o Brasil é o único que segue a cartilha", diz Ernesto Lozardo, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e autor do livro "Globalização - A Certeza Imprevisível das Nações". O Basiléia II é o acordo que regula em mais de 100 países a gestão do risco bancário. A regulação foca a prevenção de uma crise bancária internacional, através da fiscalização do lastro nas ações de risco. Justamente o elemento que poderia ter evitado a crise mundial, detonada pelos subprimes nos Estados Unidos. "A principal âncora do nosso desenvolvimento é o sistema financeiro estável e sólido. Ele fará o Brasil se sair melhor na crise. Os bancos brasileiros estão capitalizados e são confiáveis. Esta credibilidade é dada pelo Banco Central, que faz correções rápidas, fiscalizando a liquidez e o grau de risco dos bancos", diz Lozardo. Ele acrescenta que o País é o único com metas para a inflação e ações interbancárias. Nem a China, com quem o Brasil divide a melhor posição diante da crise, dispõe de tal eficiência. "O sistema bancário da China ainda é arcaico se comparado com o nosso", diz Rodrigo Maciel, secretário-executivo do Conselho Empresarial Brasil China (CEBC). Mas, se os chineses só têm cartões de crédito há três anos, exibem reservas estrangeiras incomparáveis. O Brasil dispõe de US$ 208 bilhões e a China, de US$ 2 trilhões. "A China é a base sólida que o grupo Bric tem para reduzir o impacto da crise e continuar garantindo o crescimento mundial", diz Maciel. Em 2007, os quatro países representavam 30% da economia mundial e foram responsáveis por quase metade do crescimento global, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). Os Bric avançam assim no rumo da profecia de Jim O´Neill, economista-chefe do Goldman Sachs que criou o termo e previu que o grupo seria a maior economia do mundo até 2050. Em artigo recente, O´Neill disse que a demanda dos Bric pode compensar a desaceleração americana."Todos os países do Bric têm elementos que garantem a possibilidade de continuar crescendo, mas o Brasil fica numa posição muito razoável por motivos que vão das reservas altas ao sucesso da política monetária no combate à inflação. Evidente que haverá impacto para os brasileiros, mas não será tão grave. O importante não é a situação atual, mas o futuro, com o encolhimento dos mercados para exportação", diz Albert Fishlow, economista e brasilianista, diretor do Instituto de Estudos Latino-Americanos e do Brasil da Universidade de Columbia. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)(Leda Rosa)