Título: Apoio de Lula causa ciúmes na base aliada
Autor: Correia, Karla
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/09/2008, Política, p. A10
Brasília, 29 de Setembro de 2008 - Ao quebrar a promessa de não interferir nas disputas em cidades onde houvesse mais de um aliado concorrendo à prefeitura, feita no início das campanhas municipais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva provocou a ira de legendas governistas e plantou a semente de uma rachadura na base de sustentação do governo no Congresso para depois das eleições. O maior partido da base, o PMDB é também o mais irritado com a prioridade dada pelo presidente aos candidatos do PT e PCdoB. Na última semana antes do primeiro turno da eleição, Lula corre atrás do prejuízo para minimizar as seqüelas das eleições sobre a pauta de votações do governo no Congresso. "Quem ganhar, mesmo sem o apoio do presidente, passa por cima da situação e, mais importante, fica longe de Brasília", observa o deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE). A legenda possui 13 candidatos a prefeito vindos da Câmara, em 12 estados. "O problema está em quem perde, que volta para o Congresso irritado e culpando o presidente pela derrota. São esses parlamentares que tem potencial para influenciar suas bancadas e causar estragos em votações importantes para o governo", acrescenta o deputado do PMDB. Na legenda, o caso mais emblemático foi o do candidato à prefeitura de Feira de Santana (BA), Colbert Martins. O presidente passou por cima da promessa feita e da orientação do ministro de Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, e gravou depoimento de apoio ao candidato petista, Sérgio Carneiro, em segundo lugar nas pesquisas com 22% de intenção de votos, segundo o Ibope. Um crescimento de seis pontos percentuais em relação à sondagem anterior, feita antes da participação de Lula no programa eleitoral na televisão de Carneiro. Estacionado nos 12% de intenção de votos e pego de surpresa pelo apoio presidencial a seu rival, Colbert Martins queixou-se ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Ato reflexo, Geddel fez um barulho tão grande no Palácio do Planalto que Lula se viu obrigado a gravar uma participação para Colbert, a título de compensação. "Mas a emenda não convenceu o partido", diz Eunício. Também irritados com a falta de apoio estão o PMDB de Minas, onde o deputado Leonardo Quintão amarga a terceira colocação na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, e o do Rio de Janeiro, onde o candidato à prefeitura de Nova Iguaçu, Nelson Bournier, teve de engolir a participação presidencial na campanha do petista Lindberg Farias, apesar de ser visto como fiel apoiador do governo nas votações da Câmara. Para apagar focos de incêndios políticos espalhados na base em todo o País, o ministro José Múcio ainda negociou gravações do presidente Lula para os candidatos do PCdoB em São Luis, deputado Flavio Dino, e Renildo Calheiros, em Olinda (PE). "É uma forma de evitar uma convivência complicada com a base nos próximos dois anos", tem argumentado Múcio. Mesmo assim, nos cálculos do Palácio do Planalto, Lula terá gravado, até o fim da campanha para 13 candidatos que enfrentam aliados nas eleições municipais. Partido do vice-presidente, José Alencar, o PR se viu preterido pelo governo na disputa em Natal. A legenda apóia a candidata do PV - também da base - Micarla de Souza, que concorre com a petista Fátima Bezerra (PT), apoiada pelo PMDB. Na disputa pelo depoimento de Lula no programa eleitoral, ganhou Fátima, que tem ao seu lado o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) e a governadora do Estado, Wilma de Faria (PSB). "O PV e o PR foram deixados de lado nessa disputa", lamenta o líder do PR na Câmara e candidato do partido à prefeitura de Boa Vista (RR), Luciano Castro. Apesar do atrito em Natal, Castro acredita que a popularidade do presidente seja suficiente para arrefecer os ânimos exaltados na base. "Temos ainda dois anos pela frente. Não dá para brigar nesse tempo todo contra um governo com uma imagem tão firme diante do eleitorado", derrete-se o republicano. Vitórias prováveis Além dos aclamados 77,7% de aprovação de seu governo, segundo a última pesquisa CNT/Sensus, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve contar com os resultados positivos das eleições municipais para o seu partido, o PT, para contrapor forças em eventuais querelas travadas no Congresso. Segundo levantamento da consultoria Arko Advice, a legenda aparece na frente na corrida pelas prefeituras de sete capitais, com chances de liquidar a fatura já no primeiro turno das eleições. O partido aparece empatado com o PMDB, que tem vitórias prováveis também em outras sete capitais. A legenda aliada é uma das mais ressentidas com a quebra de acordo do presidente Lula em não participar de campanhas com mais de um aliado concorrendo à prefeitura. "O que irritou a base foi o fato de que muitos candidatos do PT a prefeito receberam apoio por meio de mensagens do presidente, o que caracterizou os candidatos do partido como candidatos do presidente", comenta o cientista político Murilo Aragão, no levantamento da Arko Advice. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 10)(Karla Correia)